Era uma manhã de domingo ensolarado, e a Escola Dominical tinha sido especialmente proveitosa. O culto, como sempre, foi incrível. No pátio do estacionamento, as pessoas se despediam, marcavam encontros para a tarde, noite e durante a semana, e trocavam calorosos “Até logo” e “Vai com Deus”.
No portão da igreja, Dona Flora, uma senhora de cabelos grisalhos e sorriso acolhedor, conversava com algumas pessoas. De repente, apareceu João, que chegara atrasado. João estava lutando para ser mais fiel, mas ainda não tinha conseguido. Ele trabalhava à noite e era o único da sua família que tinha se convertido. Ele não conseguia chegar todos os domingos antes do fim do culto, mas fazia questão de ir para que, por acaso, encontrasse alguém, pudesse pelo menos tomar a ceia juntos. João tinha entendido o evangelho, mas a sua vida ainda estava se adaptando.
João chegou ofegante e perguntou com um ar de desculpas e decepção por não ter chegado na hora:
– O culto já terminou, irmã?
Dona Flora sorrindo tentando ser acolhedora e compreensiva respondeu:
– No prédio da igreja, sim. Mas agora vamos continuá-lo em casa.
Dona Flora parecia estar convidando para almoçar na sua casa, e não seria a primeira vez que acolheria João ou outro irmão desta forma. João respondeu com um sorriso tímido um pouco envergonhado.
Dona flora tinha sido a primeira pessoa a sair no pátio do estacionamento. Enquanto as pessoas se dispersavam, um grupo de amigos se reuniu no pátio. Entre eles estavam João, Pedro, Ana e Lucas.
Pedro pensativo e tendo ouvido a resposta da dona Flora para João disse:
– Sabe, ouvi alguém dizer que a verdadeira adoração começa na segunda-feira.
Ele queria dar um apoio para João que parecia mesmo estar envergonhado.
Ana também ainda estava procurando se envolver e concordando, disse:
– Eu diria mais: começa realmente depois do culto, quando nos dirigimos para onde quer que vamos depois do encontro com a igreja.
Lucas, como sempre curioso, participou:
– Como assim, Ana?
Ana explicando disse:
– No domingo, é fácil se dizer discípulo de Cristo porque estamos todos reunidos ou até aqui conversando entre nós. Mas e depois? Quem somos nós em casa, na escola, no trabalho, na rua? Quem somos quando estamos sós? É lá em casa que somos quem realmente somos e nem sempre quem deveríamos ser…
João sentindo-se meio culpado só ouvia os irmãos conversando. Eles decidiram almoçar juntos na casa da dona Flora tanto para amparar João que chegava atrasado algumas vezes quanto para continuar a conversa que estava muito interessante.
Enquanto caminhavam em direção ao estacionamento, Pedro compartilhou uma experiência pessoal.
Suspirando Pedro disse:
– Uma vez, num tempo não muito distante, saí do culto e quase perdi a paciência com um motorista que estava devagar na minha frente. É tão fácil esquecer a mensagem do culto no dia a dia.
Dona flora aproximando-se disse:
– É verdade, Pedro. A verdadeira adoração não é apenas a reunião da igreja, mas o que acontece depois. Como está escrito em Colossenses 3:17: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”
– Concordo! – disse Lucas, e continuou: Tudo o que fizemos desde antes da chegada do primeiro irmão até os avisos e a nossa conversa no estacionamento e continuando agora, tudo o que estamos fazendo e ainda vamos fazer durante a semana, deve ser feito em nome de Jesus. Claro que é isso que vai nos balizar para que não façamos certas coisas, simplesmente porque não dá pra fazer em nome de Jesus.
– Pois é, disse João, já pensou falar um palavrão? Não dá pra falar que foi em nome de Jesus…
Todos riram enquanto João gesticulava com as duas mãos para cima meneando a cabeça como se desculpasse enquanto supostamente se justificava para Jesus.
Mais tarde, no almoço entre os irmãos, a conversa continuou. Dona Flora fazia seu famoso macarrão mata fome para João, Pedro, Ana e Lucas.
João refletindo disse:
– Às vezes, sinto que criamos muitas regras na igreja que não estão na Bíblia. Tais como aquela questão se os avisos fazem parte do culto ou não; que tipo de cânticos devemos cantar, só para citar alguns exemplos.
– Verdade – disse Pedro completando com mais algumas regras que tinha ouvido e visto – se devemos nos vestir com tal roupa no domingo, se cantas ou lemos a bíblia de pé, se devemos ajoelhar ou não. Vejo algumas pessoas até bem intencionadas tentando criar regras que ela acha úteis e tentando impor sobre os outros.
Dona Flora era uma mãe para eles. Viúva, tinha sempre sua casa aberta. Tinha se convertido logo depois da trágica e inesperada morte do marido. Ela sempre expressava palavras sábias com calma e, desta forma, todos prestavam mais atenção ao que ela dizia. Olhando para todos e finalmente para o João disse:
– Em Colossenses 2:20-23, Paulo fala sobre não nos sujeitarmos a ordenanças humanas. Devemos seguir os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, não criar regras desnecessárias.
E ainda ela completou com um assunto trazido à Escola Dominical do ano passado:
– Lembra que estudamos Romanos? Então, lá vimos que não devemos discutir opiniões e impor sobre os outros. Devemos procurar viver em paz. Se não me engano é Romanos capítulo 14, não é?
– Isso mesmo! – Afirmou Pedro sentado no sofá e olhando para trás.
Ana compenetrada e interessada compartilhou sua dúvida que surgiu de algo que ela tinha ouvido o ano passado na Escola Dominical:
– E sobre a circuncisão e a lei de Moisés? Os apóstolos também discutiram isso sobre regras, não foi?
Pedro afirmando com a cabeça e abrindo o aplicativo da Bíblia no celular disse:
– Sim, foi aqui em Atos 15:10, Pedro disse: “Por que agora vocês querem colocar Deus à prova, pondo sobre os ombros dos discípulos uma carga que nem nós nem nossos antepassados fomos capazes de carregar?”
Já à mesa do almoço, todos se reuniram para uma oração.
Lucas estava sério, compenetrado em seus próprios pensamentos. como se estivesse pensando alto disse:
– então, o que fazemos com nossas opiniões e regras?
Mais experiente dona flora respondeu sabiamente:
– Ter regras não é de todo mal, só não é doutrina. Se uma congregação inteira concorda em fazer algo de um jeito, sem julgar quem não faz, isso é válido. Mas lembrem-se, como diz Romanos 14:8-12, todos nós vamos nos apresentar diante de Deus e Ele nos julgará. Devemos viver para o Senhor, tanto na vida quanto na morte.
Pedro lembrou decor e disse sorrindo:
– E que tudo o que fizermos, seja em ação ou palavra, seja para a glória de Deus.
Ao que todos disseram como se estivessem no culto:
– Amém!
E assim, aquele domingo ensolarado terminou com uma profunda reflexão sobre a verdadeira adoração e a importância de viver a fé diariamente, não apenas nas reuniões da igreja, mas em todos os momentos da vida. Um convidado oculto esteve entre eles o tempo todo instruindo e lembrando da palavra, o Espírito Santo de Jesus.