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Temos Um Monstro a Combater

“As mulheres se alegravam e, cantando alternadamente, diziam: “Saul matou os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares.” Saul se indignou muito, pois estas palavras lhe desagradaram em extremo. Ele disse: — Para Davi elas deram dez milhares, mas para mim apenas milhares. Na verdade, o que lhe falta, a não ser o reino? Daquele dia em diante, Saul não via Davi com bons olhos.” – Samuel 18:7-9

Estou lendo o 1º livro de Samuel e chegando ao capítulo de 18, encontrei um verdadeiro manual de como devemos lidar com nossos sentimentos quando estes são contra nós. E também como nossa personalidade pode nos trair e nos fazer presas fáceis de sentimentos tão humanos como ciúmes, medo, inveja, entre outros, sentimentos estes que podem nos levar a praticar as obras da carne citadas em Gálatas 5:19-21.

Uma brincadeira feita em forma de poema, talvez sem maiores pretensões, deu origem a uma perseguição louca e implacável de Saul para com Davi, que durou aproximadamente 13 anos.

Em primeiro lugar, compreendo perfeitamente o desconforto e o sentimento de Saul quando as mulheres, mesmo num cântico, deram a Davi 10 milhares e a ele somente milhares. Sim, parece algo infantil, mas já presenciei amizades sendo desfeitas em razão do sucesso de um em detrimento do outro. Eu mesmo confesso, já tive (e, confesso com vergonha ainda tenho em alguns momentos) sentimentos como ciúmes e inveja. Olhando racionalmente reconheço que não deveria tê-los, mas fui e ainda sou traído por questões que ainda povoam meu coração e talvez retrocedam à minha infância.

Não subestimemos a capacidade humana de criar “fantasmas” e inimigos onde eles não existem. Davi sempre foi fiel a Saul, mas a condição interna pobre do rei o fez perseguir o jovem. Não é por menos que Jesus diz que do nosso coração (nossa parte mais interna) provém maus pensamentos, homicídios (Mateus 15:19), entre outros, que nos levam a ter condutas pecaminosas, como aconteceu com Saul.

Ao sentir-se ameaçado por Davi, Saul teve medo, o texto repete isso 3 vezes (vs. 12, 15 e 29) e tentou fazer de tudo para se livrar dele: primeiro, afastando-o de perto (talvez a maneira mais apropriada), depois tentando se livrar dele através das armas dos filisteus e no capítulo 19 de maneira aberta. Mesmo neste capítulo que estou comentando ele tentou encravar Davi com uma lança. Quando estamos nos sentindo inseguros por ameaças reais ou imaginárias, precisamos buscar a Deus, ao contrário do que fez Saul, e confiar a Ele nossas inseguranças, pedindo que ajude-nos a lidar com esses sentimentos. Por isso Paulo diz que nossa luta não é contra seres humanos (Efésios 6:12). O medo de Saul o cegou, encheu seu coração de ódio e, confesso meus irmãos, eu entendo perfeitamente isso. O problema foi o rei não saber lidar com esses sentimentos. O Espírito de Deus tinha saído de Saul em razão de sua desobediência e rejeição e isso causou a ele muito mal, um pecado foi levando ao outro. O medo leva a traições, assassinatos, violência e atitudes tão pecaminosas e precisamos sempre levá-lo aos pés e senhorio de Jesus Cristo.

E em terceiro lugar, Saul não lidou com aquela situação da maneira como séculos depois João Batista soube trabalhar com a crescente popularidade de Jesus e a diminuição de seu papel:

“João respondeu: — Ninguém pode receber coisa alguma se não lhe for dada do céu… Convém que ele cresça e que eu diminua.” – João 3:27, 30

João tinha uma maneira saudável de lidar com sucesso e fracasso. Saul devia entender que Deus o havia desamparado e só restava a ele duas opções: voltar ao Senhor arrependido esperando ter mais uma chance ou aceitar os desígnios de Deus como anos antes o sacerdote Eli fez (1 Samuel 3:18). Sim, quando algo negativo acontece conosco, quando temos quedas na vida, quando somos ultrapassados por outro ser humano precisamos pensar como João Batista: “se vem de Deus nada tenho a fazer”. Isto evitaria tanto sofrimento nosso e dos outros, tanta competição desnecessária. 

Como disse no começo, ter sentimentos de ciúmes, inveja, despeito e em razão desses sentir medo é humano, o problema é a maneira como lidamos com isso. Costumo tentar seguir o que Paulo nos ensina: “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão…” (1 Coríntios 9:27a). Sim, as emoções tentam nos trair, podemos sentir mal, chorar, confessar para Deus e até mesmo para um amigo confiável, mas cabe a nós barrar no poder do Espírito Santo qualquer sentimento que tente nos fazer, por exemplo, odiar uma pessoa, falar mal dela por inveja ou mesmo tentar causar-lhe mal. Foi o que Deus disse para Caim: 

“Então o Senhor lhe disse: — Por que você anda irritado? E por que essa cara fechada? Se fizer o que é certo, não é verdade que você será aceito? Mas, se não fizer o que é certo, eis que o pecado está à porta, à sua espera. O desejo dele será contra você, mas é necessário que você o domine.” – Gênesis 4:6-7

Caim poderia dominar seus sentimentos mesquinhos, humanos e que foram utilizados pelo mal, levando-o a assassinar o próprio irmão por inveja e ciúme, Saul também poderia e não o fez, mas, João Batista cortou qualquer tentativa nesse sentido quando provocado por seu próprio discípulos (João 3:25-26).

Quero finalizar dizendo que todo ser humanos, mesmo nós habitados pelo Espírito Santo, temos um monstro a dominar, interno, aquela parte nossa decaída no jardim do Éden e que mesmo crucificada junto com Jesus no momento do batismo (Romanos 6:4-7), vez ou outra tenta nos assaltar quando somos provocados, nos sentimos injustiçados e nos momentos de sofrimento.

Mas tenhamos a certeza, nós, habitados pelo Espírito Santo, tementes a Deus, sabedores de que nossa vida, presente e futuro, está nas mãos de Deus, no poder do Espírito Santo, podemos matar esse animal terrível interrno (Romanos 8:13), de glória em glória (2 Coríntios 3:18), isto é, aos poucos, mas de maneira cada vez maior, fazendo morrer esta parte de nós, para que Jesus viva em nós (Gálatas 2:20), instalando seu caráter e santidade, de maneira cada vez maior (2 Pedro 1:4).

Como desejo isso! E não depende somente de mim, minha força, mas de permitir através da leitura e meditação diária nas Escrituras, de uma vida de oração dependente a Deus, confessando a Ele as minhas mazelas e, quando necessários, a irmãos que também estão na mesma luta.

No final de nossa vida, chegaremos no céu cheio de escoriações feitas pelo pecado, mas vitoriosos, prontos para a transformação total que experimentaremos para habitar com Jesus as regiões celestias. Aleluai!

Mesa Redonda
O Livro Para os Jovens Cristãos

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