Tomo a liberdade de passear pelos estudos da Psicologia e neurologia para que, através destas ciências, possamos chegar a um aprendizado espiritual com relação a um aspecto essencial para o manter-se de pé diante dos percalços na caminhada cristã: O AUTOCONTROLE.
Teste do marshmallow
Na década de 1970 os psicólogos já se interessavam em entender o funcionamento e encontrar uma forma de mensurar o autocontrole. Há um estudo famoso, realizado pela Universidade de Stanford, conhecido como “Teste do Marshmallow” e consistia no seguinte: crianças de 4 anos eram convidadas para uma ‘sala de jogos’; chegando lá, lhe apareciam com uma bandeja dos mais variados e suculentos doces (confeitos) para que elas escolhessem o seu favorito; ao escolherem era feita uma proposta: se a criança esperasse 15 minutos diante do doce e não o comessem, ganharia dois deles e ainda mais um de sua escolha. Mas, ela estava livre para comê-lo antes dos 15 minutos, se assim preferisse, porém só ganharia um mesmo.
O agravante da tentação era que a sala onde a criança ficava não oferecia nenhuma distração. Nada de brinquedos, nem TV, nem smartphones. E agora? Que dúvida cruel! Ter que esperar, olhando a tentação ali na sua frente, porém ganhar recompensa tripla? … Ou, experimentar logo o suculento doce e se contentar com ele? Não havia proibição, comer aquele doce era lícito e por si já era uma dádiva… nenhuma criança esperava por nada disso mesmo, não é?!
O resultado da pesquisa foi: um terço das crianças comeu imediatamente o doce oferecido, outro terço esperou entre 7 e 9 minutos e saboreou o doce; e o último terço conseguiu esperar os 15 minutos de olho na recompensa.
Vale apontar que o terço de crianças que conseguiu aguardar os longos quinze minutos usou de estratégias para fugir da vontade; elas contavam os dedos, cantarolavam, inventavam jogos com as mãos, usavam da criatividade para desviar a atenção do doce tentador.
As outras que não conseguiam aguentar, na grande maioria, passaram o tempo com os olhos fixos no doce, sem desviar a atenção da guloseima.
Controle Esforçado e Atenção Executiva
Anos depois, com o avanço das pesquisas, constatou-se que por volta dos 3 anos surge na criança um recurso mental chamado “controle esforçado” que é o ato de controlar a concentração, ignorando as distrações e inibindo os impulsos. Percebam que as crianças nesta idade amam brincar de “estátua” e “esconde-esconde”, e é muito engraçado porque elas não suportam ficar parados o tempo que a brincadeira exige. Somente com o passar da idade melhoram nisto. O controle esforçado é a base para um recurso mais complexo chamado Atenção Executiva.
“A atenção executiva é a capacidade de administrar nossos sentimentos perturbadores e ignorar nossos caprichos para conseguirmos nos manter focados num objetivo” (Goleman, 2014)
Autodomínio X Gratificação
Estamos o tempo inteiro passando por uma luta mental onde guerreiam o autodomínio e a gratificação instantânea.
Dormir ou acordar? Estudar ou assistir a série favorita? Fazer dieta ou comer a lasanha?
Para que o autodomínio vença a luta, precisamos vencer três etapas, todas relacionadas ao foco da atenção:
1º) Desligar o foco do objeto do desejo;
2º) resistir à distração causada pela vontade de satisfazer-se;
3º) manter a atenção na recompensa futura.
Ganho material X Recompensa celestial
Qual é o meu doce favorito? O que me deixa tentado?
Quantas vezes pecamos e nos damos conta que se tivéssemos respirado fundo, orado por um minuto, contado até cem, dado um passo para trás, confessado a tentação, teríamos a chance de não sermos envergonhados pelo pecado? E falo daqueles “pecadinhos” teimosos e diários que, de maneira sorrateira, atrapalham nosso amadurecimento, quebram nossa intimidade com Deus e nos deixam enfraquecidos para acreditar que podemos lutar contra eles. Alguns disfarçados de boas intenções: “não quero magoar, falei meia-verdade”, “preciso juntar dinheiro”, “foi um vídeo que meu amigo mandou”, “só quis contar uma coisinha sobre ela”… e somos enredados no mau hábito de experimentar o prazer imediato. Um agora momentâneo que acaba rapidamente, e nos coloca em risco de perder o que é eterno.
A carta aos Filipenses está recheada de estratégias para manter a atenção focada na recompensa maior. O apóstolo Paulo escreve sobre o desejo de alcançar a ressurreição, sobre a corrida rumo ao aperfeiçoamento, esperando conquistar o prêmio celestial: “Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus. (Fp 3:13-14)”
Os estudos posteriores ao teste do marshmallow concluíram que a alta capacidade de autocontrole prevê bom ajuste emocional, melhores habilidades interpessoais, sensação de segurança e adaptabilidade, capacidades essenciais para a saúde mental.
Desenvolver este recurso complexo é trabalhoso, um “controle esforçado”, lembra?
Com Cristo somos capazes de desenvolver a “atenção executiva”, para que não sejamos imaturos, levados pelo desejo de satisfação imediata. Jesus Cristo nos trará a paz necessária para aquietar a ânsia pelo agora e esperar confiantes na recompensa celestial. A estratégia: manter o pensamento ocupado com o que for nobre, correto, puro, verdadeiro, excelente…
E o Resultado: E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus.
(Filipenses 4:6-9)
Referência: Goleman, Daniel – Foco: a atenção e eu papel fundamental para o sucesso. 1ª. Ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
