“Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: — Senhor, quer que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu.” – Lucas 9:53-55
A rejeição dos samaritanos em receber Jesus também é relatada somente por Lucas. Normalmente quando iam para Jerusalém, os judeus não passavam por dentro de Samaria. Mas como anos atrás Jesus foi bem recebido pelos samaritanos (João 4), talvez os apóstolos pensassem que a atitude seria repetida. Enganaram-se.
A atitude de Tiago e João, chamados por Jesus de “irmãos Boanerges” ou “filhos do trovão” *Marcos 3:17), talvez por seu temperamento explosivo, chama a atenção. O que eles teriam em mente ao perguntar a Jesus se podiam fazer descer fogo do céu para consumir os samaritanos? Eles nunca tinham visto tal atitude em Jesus. Talvez pensassem nos moradores de Sodoma e Gomorra destruídos por fogo (Gênesis 19) ou em Elias, que fez cair fogo do céu durante o reinado de Acabe (1 Reis 18).
Porém, os apóstolos são repreendidos por Jesus e quero chamar a atenção para esse mesmo texto na ARA:
“Jesus, porém, voltando-se os repreendeu [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois]. [Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.] E seguiram para outra aldeia.” – Lucas 9:55-56
Apesar de não constar em muitos manuscritos antigos, o texto diz muito sobre Jesus: “Vós não sabeis de que espírito sois”. Naquele momento (e até hoje) o evangelho tem o objetivo de salvar as pessoas e conquistá-las de forma pacífica, não violenta. Eis a razão pela qual nunca funcionou quando os cristãos usaram a espada do Estado para “convencer” as pessoas a seguirem a Jesus.
Todas as pessoas, ao entrarem neste mundo, quando passam a ter consciência da vida, já tem o inferno como destino em razão do poder do pecado. A obra de Jesus e dos seguidores dele é exatamente pregarem o evangelho, a boa nova, de forma pacífica, libertando as pessoas “do império das trevas, transportando-as para o reino do Filho de Deus” (Colossenses 1:13).
Vejamos como Paulo agiu para ganhar as pessoas, sem violência, mas tornando-se bastante maleável para com elas.
“Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter feito exigências, preferimos ser carinhosos quando estivemos aí com vocês, assim como uma mãe que acaricia os próprios filhos.” – 1 Tessalonicenses 2:7
“Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.” – 1 Coríntios 9:19
Esse é o espírito de Cristo, que Tiago e João ainda não haviam compreendido. Dócil, como uma mãe que acaricia, a fim de ganhar o maior número de pessoas para o Senhor, que serão convencidos pelo amor dos seguidores do Mestre, não por sua violência. Nossa atitude no dia a dia, nossas palavras e atos, podem aproximar as pessoas daquele a quem dizemos representar ou afastá-las.
Que este espírito de Jesus nos mova na maneira como tratamos as pessoas diariamente, atraindo-as, a partir da forma amorosa como as tratamos, a receber Jesus em suas vidas, atitude esta não vista em razão do preconceito dos samaritanos, situação que poderia ter sido piorada ante a maneira explosiva dos irmãos Boanerges.