“Todas as igrejas de Cristo vos saúdam”, Romanos 16:16b, é um texto bem conhecido nosso.
Há apenas uma igreja de Jesus, universal, presente em todo o mundo. No entanto, em várias localidades há a igreja local daquela cidade, como acontecia no primeiro século. Basta ver as cartas escritas por Paulo às comunidades cristãs em Roma, Corinto, Galácia, Éfeso, Filipos, Colossos e Tessalônica.
No Brasil há cerca de 250 grupos conhecidos, espalhados por este vasto país. Eu congrego na igreja no bairro dos Pimentas, uma das três congregações existentes na cidade de Guarulhos/SP.
QUEM É O LÍDER AQUI?
O mundo evangélico usa uma estrutura semelhante à do catolicismo, que copiou o modelo da Roma antiga com o imperador e seus senadores.
E na igreja do Novo Testamento, que queremos copiar?
Quem é o responsável pela igreja local?
A igreja deve ter um pastor ou vários pastores?
Solteiros podem ser pastores?
Mulheres podem ser escolhidas como pastoras?
Uma congregação pode ter apenas um pastor?
Qual a diferença entre pastor, bispo e presbítero?
Uma pessoa pode servir como pastor em diversas congregações?
QUEM É O RESPONSÁVEL AQUI?
De vez em quando alguém vai nos visitar na igreja nos Pimentas, muitas vezes precisando de algo e a pergunta que fazem é: “quem é o responsável aqui?” ou “quem é o pastor aqui?” Eu respondo: “Jesus é o Pastor e Responsável aqui, eu sou um dos servidores dele. Em que posso ajudar?”
Costumo dizer que na igreja de Deus Jesus não é a principal estrela, Ele é a única Estrela, o cabeça do corpo (Colossenses 1:18), a pedra angular da casa de Deus (Efésios 2:20-22 e 1 Pedro 2:4-7), conforme Ele mesmo afirmou no evangelho (Mateus 16:18-19). Todos são irmãos e servos uns dos outros.
Porém, na igreja de Jesus, Ele levanta e nomeia seus servidores. No início da igreja os apóstolos eram esses, conforme podemos ver em textos como Atos 2:42 e 4:32-5:1. Até chegar em Atos 6 quando a necessidade das viúvas fez com eles dividissem melhor o trabalho orientando a igreja a escolher 6 homens para servirem às mesas.
Alguns os chamam dos primeiros diáconos da igreja, apropriado se pensar na função, pois o nome significa “servos”, porém não apropriados quando pensamos na função posteriormente regulamentada nas cartas de Paulo a Timóteo e Tito.
JESUS DELEGA A SEU SERVIDORES
A igreja adotou uma maneira semelhante às sinagogas quanto à delegação de Jesus a seus servidores (Marcos 5:22). Na igreja de Cristo Ele é o único Chefe, porém coloca homens que funcionam como supervisores na casa dele.
“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor, em quem haviam crido.” – Atos 14:23
“Mas vocês não serão chamados de “mestre”, porque um só é Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos.” – Mateus 23:8
No texto de Atos 14:23 Paulo promove a eleição desses homens chamados de presbíteros, palavra grega que significa “velho” ou “ancião”.
Anciãos não somente em termos cronológicos, mas especialmente espirituais. Na Bíblia presbítero, bispo (supervisor) ou pastor são termos sinônimos, conforme podemos concluir a partir da leitura de Atos 20:17 e 28. Vejamos no último texto a maneira como Paulo se dirige aos denominados presbíteros no primeiro texto:
“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”
Paulo promovia a eleição de presbíteros em cada igreja, isto é, não havia a anomalia encontrada hoje no mundo religioso de uma pessoa responsável por várias congregações.
O papado no catolicismo e os super pastores ou mesmo apóstolos no mundo evangélico são desvios bíblicos que tem muito mais a ver com a ideia de “mandar” e “controlar” do que servir. O texto ainda mostra que em cada igreja havia uma pluralidade de presbíteros. A ideia de um pastor em cada igreja não é aceita pela Bíblia.
Portanto, a pergunta que mencionei no início desse artigo deveria ser “quem são os pastores desta igreja?” Quando me refiro a eles gosto de utilizar os sinônimos presbíteros, pastores, bispos ou anciãos.
Uma vez escolhidos os presbíteros, há o que chamo, emprestado da linguagem jurídica, de “pesos e contrapesos”. A Bíblia nos ensina a sermos submissos a esses homens, cujas qualificações necessárias para serem escolhidos se encontram em 1 Timóteo 3 e Tito 1:
“Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês; e, considerando atentamente o fim da vida deles, imitem a fé que tiveram.” – Hebreus 13:7
“Obedeçam aos seus líderes e sejam submissos a eles, pois zelam pela alma de vocês, como quem deve prestar contas. Que eles possam fazer isto com alegria e não gemendo; do contrário, isso não trará proveito nenhum para vocês.” – Hebreus 13:17
“Irmãos, pedimos que vocês tenham em grande apreço os que trabalham entre vocês, que os presidem no Senhor e os admoestar. Tenham essas pessoas em máxima consideração, com amor, por causa do trabalho que realizam. Vivam em paz uns com os outros.” – 1 Tessalonicenses 5:12-13
Ao mesmo tempo, vejamos as orientações inspiradas de Pedro que, além de apóstolo, também foi um dos presbíteros, como também o apóstolo João 2 e 3 João 1). Os pastores não são os mandachuvas da igreja.
“Que pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês, não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer; não por ganância, mas de boa vontade; não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho.” – 1 Pedro 5:2-3
Enquanto uma igreja não possui famílias qualificadas para que deles sejam escolhidos os presbíteros, homens que aspirem essa função, condição muito necessária (1 Timóteo 3:1), a igreja é servida por evangelistas, como podemos ver na igreja em Creta (Tito 1:5)e em Éfeso (1 Timóteo 1:3) servidas por Tito e Timóteo.
É a realidade da igreja em Pimentas, servida por 3 evangelistas, sendo eu um deles. Porém, nossa oração tem sido que Deus levante em nosso meio pessoas qualificadas para servirem como presbíteros e que desejem essa função.
Jesus é o Supremo Pastor da igreja (1 Pedro 5:4), o Responsável pela irmandade, que anda entre as igrejas locais, supervisionando-as (Apocalipse 2:1). Mas Ele utiliza pessoas falíveis como todo ser humano é, na grande responsabilidade de supervisionar tudo o que acontece na igreja, a casa e o reino de Deus. Que privilégio e responsabilidade!
O PROCESSO DE ESCOLHA
Geralmente a igreja faz, orientada por seus evangelistas, como Tito e Timóteo fizeram ao promover a eleição de presbíteros para as igrejas em Creta e Éfeso.
Primeiro, é importante estudar o que as Escrituras Sagradas ensinam.
Pensar se em seu meio há famílias com pessoas qualificadas para que do seu meio sejam escolhidos os pastores – homem, esposa e filhos precisam preencher as qualificações – não somente o homem.
Primeiro requisito – desejarem (1 Timóteo 3:1) e já estarem servindo à congregação. Não são escolhidos para servir, mas, por já servirem, ganham o título.
QUALIFICAÇÕES DOS CANDIDATOS A BISPOS
Sugiro a leitura de 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9
Quero destacar algumas:
Irrepreensível – ele não possui uma mancha que o desqualifica. Semelhante a conduta ilibada requerida dos ministros do STF.
Marido de uma só mulher – um tanto polêmico, pois todo cristão deve ser marido de uma só mulher. Destaca aqui a fidelidade. Eu acrescentaria: não passou pela experiência do divórcio.
Vigilante, sóbrio e modesto – uma pessoa bastante equilibrada.
Hospitaleiro – Não é aquele que vive com a casa cheia de parentes e amigos chegados. Mas a hospitalidade tem a ver com a capacidade de acolher o estranho, o diferente (Hebreus 13:2).
Apto para ensinar – é o básico para alguém que pastoreia a igreja.
Não dado ao vinho/beberrão ou espancador – mais uma vez sugere o equilíbrio, é uma pessoa não presa a qualquer vício.
Não cobiçoso de torpe ganância – não pode ser viciado em dinheiro, servo de Mamon, que serve pensando sempre no ganho financeiro.
Casado e com filhos fiéis – essa qualificação já desqualifica os solteiros ou o casal sem filhos, que podem servir de outras maneiras. Uma família com filhos desviados, pode não ser a culpa total dos pais, mas os desqualifica.
Não arrogante, não irascível – uma pessoa humilde, não orgulhosa e que não tem o pavio curto, perde a calma com facilidade.
Não violento – mais uma qualidade que demonstra equilíbrio, é manso, tem a si mesmo sob controle.
Domínio próprio – sexo, cobiça, vícios não o dominam.
Não neófito – não pode ser um novo convertido, pois poderá ser atingido pelo orgulho, que leva à condenação do diabo (1 Timóteo 3:6).
Bom testemunho de fora – não somente a igreja o aprova por sua conduta, mas também vizinhos, colegas de trabalho, que não acusam de atitudes pecaminosas.
Nota importante: vejamos que as qualificações não são apenas formais, muito valorizadas, como casado, apto para ensinar, mas a maioria delas são espirituais e emocionais.
OBSERVAÇÕES FINAIS
Na igreja de Jesus há presbíteros/bispos/pastores, nunca um somente. A pluralidade é a proteção de Deus à igreja (Filipenses 1:1).
Devem ser casados e com filhos cristãos.
Deve ter um lar funcional, bem governado.
Solteiros, casais sem filhos ou mulheres não preenchem as qualificações.
Pensemos bem nas qualificações espirituais e psicológicas.
Os presbíteros não são perfeitos, nem infalíveis. No ensino de Paulo a Timóteo os presbíteros podem ser disciplinados/corrigidos pelos evangelistas (1 Timóteo 5:17-22) quando pecam.
Os presbíteros não são “homens ungidos “, como reza a tradição antibíblica das denominações evangélicas. Esse pensamento humano leva à exaltação de homens que podem ter uma vida menos santa do que um membro que se senta no banco para assistir aos cultos (1 Tm 5.2022, 2425). Como vemos no Novo Testamento todo cristão é um “ungido de Deus” (2 Coríntios 1.21-22; 1 João 2.20, 27).
CONCLUSÃO
Cada Igreja de Cristo em cada cidade prestará contas de sua fidelidade diretamente a Cristo no dia do juízo, tendo em cada cidade seus próprios servos que pelo amor e pelo exemplo, fortalecem cada irmão rumo à maturidade espiritual.
Ressalto que no Novo Testamento não existe nenhuma instituição maior ou menor que a igreja local, que é o conjunto de salvos numa cidade ou região.
Qualquer grupo de crentes que afirme não ser uma denominação, porém tiver uma liderança nacional ou mundial que coordene todo o seu trabalho e se imponha nas cidades de forma absolutista, não passará de uma denominação religiosa. Nenhuma liderança bíblica restringe a liberdade dos salvos individualmente.