“E Jesus, olhando para ele com amor, disse: — Só uma coisa falta a você: vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres e você terá um tesouro no céu; depois, venha e siga-me.” – Marcos 10:21
Há certos textos na Bíblia são estranhos, às vezes difíceis de entender. É o que ocorre com o texto de hoje, cuja toda história, conhecida como do moço rico, encontra-se em Marcos 10:17-31, leitura que sugiro.
Na primeira vez que li, aos 10 anos, disse para mim mesmo: “que pedido estranho… Podia ser 10%, 20%, 30% ou até mesmo 50% como vi depois que Zaqueu deu aos pobres (se bem que as devoluções do que tinha roubado, sendo 4 vezes, creio quase equivaler a toda a sua renda), mas, mesmo assim, 100%?. Claro que aceitava aquilo, afinal foi Jesus quem disse, mas que achava estranho, isso, com certeza.
Hoje, quase 4 décadas depois daquela primeira leitura, compreendo um pouco mais, mas creio que compreenderei inteiramente somente quando estiver na eternidade junto com Jesus.
I – O TEXTO PRECISA SER CONTEXTUALIZADO – O problema do jovem rico
Gosto de dizer que Jesus sempre dá um tratamento vip para todos, não atende no atacado, mas conhece cada pessoa e por esse motivo, precisamos atender que esse pedido, primeiro, dirige-se àquele rapaz.
A – Um homem que, por ser tão rico, estava acostumado a “comprar” com seu dinheiro tudo o que queria – não dependia de ninguém.
Avaliando aquele homem, percebemos que colocava grande segurança em sua religiosidade (pondo-se de joelho), estava acostumado a ser elogiado por sua conduta e fala religiosa (Que farei para ter a vida eterna?). Ele era uma pessoa que confiava muito nas riquezas e na sua religiosidade (tudo tenho feito desde jovem, disse ele).
No Novo Testamento, a relação de Jesus com os religiosos sempre foi de muito conflito. Os fariseus e escribas foram os os mais criticados por Jesus, chamados de sepulcros caiados (Mateus 23:27). Até mesmo Nicodemos com sua palavra de elogio a Jesus foi repreendido pelo Mestre: “Nicodemos, você precisa nascer de novo para entrar no reino de Deus (João 3:3).
Jesus coloca tudo no devido lugar – somente Deus é bom e Jesus estava ali na condição de homem.
O Senhor citou os mandamentos, chama a atenção ele não falar da guarda do sábado, tão importante para alguns religiosos hoje.
Resumindo, Jesus disse: ame seu próximo.
B – Porém, no vs. 21 vemos o tratamento vip, pessoal de Jesus por aquele homem.
Olhando para ele, com amor ou “Jesus o amou”, na ARA. Diferente de hoje, amor não é sentimento, é ação.
Jesus conhecia a vida daquele homem, sabia dos bastidores da sua vida, do que estava no seu coração e foi direto ao ponto.
Da mesma maneira ele agiu em João 8:1-11 com a mulher adúltera – Ele conhecia os bastidores da vida daquela mulher, bem como de seus acusadores, por isso disse: “Aquele que nunca pecou, atire a primeira pedra”.
No texto de hoje Jesus viu naquele homem o que as pessoas não viam, o que a religiosidade dele escondia, o que suas palavras escondiam – Jesus viu um amante de Mamon, isto é, das riquezas.
Vs. 22 – retirou-se triste, porque tinha muitos bens. Contextualizando – para aquele homem, somente aquela atitude radical poderia dar a ele a salvação. E ele não aceitou.
II – A DIFICULDADE PARA OS RICOS SEREM SALVOS
A – Como é difícil um rico se salvar, disse Jesus!
Riqueza, dinheiro na Bíblia é Mamon – Jesus já disse que é impossível servir a dois senhores (Mateus 6:24) – Mamon como servo é uma maravilha, como senhor é dominador – basta ver o que as pessoas fazem por ele, roubam, mentem, assassinam, adulteram, tudo por Mamon, pelas riquezas.
Dinheiro produz segurança, “não preciso de ninguém”, posso comprar tudo, até mesmo a minha salvação – esta era uma pregação da religião no século XV, com a venda das indulgências pela religião oficial da época.
B – Talvez você diga, “não sou rico”, estou isento.
Hoje existem ricos materialmente falando, bastante generosos e também existem existem pobres bastante avarentos
Vs. 26-27 – “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar”
Riqueza aqui é qualquer coisa em que colocamos nossa segurança, até mesmo nossas boas obras, religiosidade, para impressionar a Deus.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”, diz Jesus em Mateus 5:3.
Existem ricos materialmente que são pobres de espírito (minoria)
Existem pobres materialmente, mas que não são pobres de espírito.
Pobre de espírito é exemplificado pelo publicano de Lucas 18:13-b “Ó Deus, tem pena de mim, que sou pecador”.
“Bem aventurados os que choram, porque serão consolados”, choram por sua incapacidade de salvarem-se a si mesmos, de reconhecerem que não podem fazer nada para conseguir a salvação, senão chegar humildemente diante de Deus, cientes de que são carentes da glória de Deus (Romanos 3:23). No batismo, confessamos nossa miserabilidade espiritual, que precisamos de um Salvador, que somos incapazes de nos salvar.
III – CHAMADO DE JESUS PARA DAR TUDO
Pensamos que é somente o jovem rico que é chamado para dar tudo que tinha, mas este é o preço do discipulado.
Veja quantos exemplos na Bíblia – Mateus 13:44-45
“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem achou e escondeu. Então, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também semelhante a um homem que negocia e procura boas pérolas. Quando encontrou uma pérola de grande valor, ele foi, vendeu tudo o que tinha e comprou a pérola.”
Aquele jovem queria acrescentar às suas riquezas, na qual confiava, sua fé em Jesus – ali Jesus mostra que não dá para servir a dois senhores.
“Grandes multidões acompanhavam Jesus, e ele, voltando-se, lhes disse:
“Se alguém vem a mim e não me ama mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua mulher, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” – Lucas 14:25-26
“Jesus dizia a todos: — Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. – Lucas 9:23-24
Jesus nos chama a deixar todas as nossas riquezas, onde colocamos a nossa segurança e esperança para segui-lo. O que você precisa deixar? O que eu preciso deixar?
Zaqueu – Lucas 19:-1-10 – “dou metade aos pobres, devolvo o que roubei 4 vezes mais” – Ele entendeu.
Novo Testamento – não há exigência do dízimo – Ele quer nos transformar em novas criaturas – tudo o que temos pertence a Ele e tudo o que dele nos pertence, ilustada na parábola do filho perdido, infelizmente o filho mais velho não entendeu essa lição:
“ Então o pai respondeu: ‘Meu filho, você está sempre comigo; tudo o que eu tenho é seu.’” – Lucas 15:31
IV – PERDENDO PARA GANHAR – vs. 28-31
Pedro, esperto, olhou para si e outros: “Eis que deixamos tudo…”
Veja a resposta de Jesus. “Deixa tudo, utiliza pra mim e veja o que eu posso fazer”.
“Jesus respondeu: — Em verdade lhes digo que não há ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do evangelho, que não receba, já no presente, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, receberá a vida eterna.” – vs. 30-31
Vejamos quantos exemplos na Bíblia da aplicação deste princípio: Abraão não recusou a Deus seu único filho e tornou-se pai de muitas nações e pai da fé dos que vivem em suas pisadas da fé (Gênesis 22:15-18 e Romanos 4:12), Ana não hesitou em devolver a Deus seu único filho, tornou-se mãe daquele que foi profeta, sacerdote e juiz e ainda ganhou mais 5 filhos (1 Samuel 2:20-21), na parábola dos talentos as pessoas que utilizaram os 2 e 5 talentos, receberam em dobro, enquanto o que enterrou seu único talento, até este perdeu (Mateus 25:28).
Temos nossas riquezas: carro, casa, emprego, salário, família, vida, saúde – o que estamos fazendo com eles? Utilizando-os para Deus e o Reino dele ou fazendo deles nossos deuses particulares?.
Quando utilizamos tudo o que temos como canal de bênçãos para outros – Deus vai abençoando e multiplicando e não há mais aquela diferença entre espiritual ou material, pois tudo se torna para fins espirituais.
Daqui a pouco, tudo o que é nosso é de Deus e tudo o que é Deus é nosso. Ganharemo nesta vida 100 vezes mais (representado pela família espiritual que é a igreja), junto com perseguição e no porvir a a vida eterna, que é a maior bênção que receberemos.
CONCLUSÃO
Convidar você que já é discípulo, mas está longe do que diz o cântico: “tudo deixarei”, ainda tem reservas para o Senhor? – entregue tudo para ele, sua vida – deixe que o que você tem confunda-se com o que Deus tem.
Você que ainda tem seus deuses, seus valores, até mesmo sua religiosidade, acha que pode comprar sua salvação – torne-se pobre de espírito para se tornar rico aos olhos do Senhor.
O chamado de Jesus é nosso: “Vá, venda tudo o que tem, tudo o que lhe dá segurança, jogue fora, depois venha e siga-me”.
Só você sabe o que ainda coloca na frente de Jesus, só eu eu sei – É exatamente isto que ele está pedindo.
Ana e Abraão tiveram que se desfazer dos seus “deuses”, que era o desejo de terem filhos, o moço rico dos seus bens materiais, Zaqueu daquilo que tinha adquirido de maneira desonesta.
E você? E eu? O que Jesus está requerendo que joguemos fora hoje?
NOTA: Mensagem pregada no culto da Igreja de Cristo no Bairro dos Pimentas, Guarulhos/SP., em 12 de julho de 2020.