Ao longo do tempo e da caminhada cristã de cada um de nós, inevitavelmente acabamos escolhendo aqueles personagens bíblicos com que mais nos identificamos e acabamos meio que escolhendo um “personagem favorito”, mesmo sabendo que todos nós são igualmente inspiradores e nos servindo de exemplos de vida.
Assim sendo, alguns irão se identificar mais com Moisés, outros com Daniel, ainda outros com Paulo, Pedro, Abraão, Davi e assim por diante.
Ato contínuo, ao escolhermos nossos favoritos, passamos a olhar para a vida deles e desejamos ter a mesma trajetória. Mas, invariavelmente, acabamos por nos concentrar apenas nos melhores momentos das vidas deles, aqueles em que terminaram recebendo suas recompensas ou foram elogiados pelo que fizeram.
E dessa maneira nos lembramos de Abraão sendo chamado de amigo de Deus (Tiago 2:23) e sendo conhecido como o pai da fé; mas acabamos por deixar de lembrar que, para chegar nesse ponto, Abraão teve que abandonar sua terra para ir para uma outra que nem conhecia e nem sabia onde era, além de ter que quase sacrificar seu filho Isaque, o filho da promessa.
Se escolhermos Daniel, gostamos de lembrar como era dedicado e fiel a Deus, mas também deixamos de lado o fato de que ele foi levado cativo ainda jovem, viveu numa terra distante longe de seu povo e seus costumes, abrindo mão de aproveitar os finos manjares da Babilônia, colocando sua vida em risco ao não se sujeitar a adorar outros deuses senão o único Deus verdadeiro, mesmo num ambiente totalmente idólatra e pagão.
Se for Moisés, lembramos de seu contato direto com o Senhor, ouvindo e falando diretamente com Deus, recebendo as tábuas da Lei e tendo o privilégio de ver a glória de Deus passar por ele (Êxodo 33:18-19); e deixamos de lembrar todo o sacrifício de viver 40 anos no deserto como pastor de ovelhas, mais 40 anos também conduzindo um numeroso povo pelo deserto junto com todos os problemas que isso causa, deixar de ser considerado filho da filha de Faraó para se tornar um perseguido por Faraó e também não ter entrado na terra prometida de Canaã por causa de um lampejo de rebeldia.
Ah! Você escolheu Davi. Rei poderoso, rico, chamado de “o homem segundo o coração de Deus” (Atos 13:22). Mas lembrou-se dele enfrentando um gigante? Ou sendo implacavelmente perseguido por Saul para ser morto, escondendo-se em cavernas? Ou ainda sofrendo amargamente por seu pecado com Bate-Seba, após a morte de seu filho?
Se for Paulo, podemos nos apegar à sua inteligência, cultura e impactante orador e divulgador do Evangelho. Mas não nos esqueçamos de suas chibatadas, prisões, sofrimento e morte em Roma para que esse mesmo Evangelho fosse conhecido e divulgado por todo o mundo.
E ainda poderíamos escolher outros vários, mas a história será sempre a mesma. Todos aqueles que chamamos de heróis na Bíblia tiveram sua grande parcela de sofrimento e resiliência para pequenos momentos de vitória. Porém, essas “pequenas vitórias” foram o motivo suficiente em suas vidas para que pudessem hoje estar ao lado do Pai, pois cumpriram com as missões para as quais foram chamados. Pequenos momentos de reconhecimento em meio a uma vida inteira de lutas, mas a recompensa é imensamente superior ao que passaram.
Resta a nós, também, cumprirmos nossos papéis de servos, mesmo em meio a lutas e dificuldades, para que possamos receber a nossa recompensa que é a mesma que a deles. Viver eternamente ao lado de nosso Senhor e Salvador após “combater o bom combate, completar a carreira, guardar a fé” (II Timóteo 4:7-8).