No Velho Testamento a casa era a filial do templo de Jerusalém. O sábado era para ficar em casa fortalecendo os laços familiares. Somente no período inter-testamentário é que surgiram as sinagogas onde se liam os livros da Lei. Embora não estar prescrito na Lei a sinagoga, Jesus a frequentava todos os sábados e lá lia a Palavra de Deus (Lc 4:14-21). Foi este o cenário que começou o Novo Testamento e a igreja. Com o começo da igreja, a família cresceu e já não podiam mais ser comportados por uma casa, precisaram marcar para adorar a Deus em lugares públicos como o Pórtico de Salomão (At 3:11).
Logo depois do começo da igreja, vem a perseguição pelos próprios judeus. Os apóstolos são presos e até mortos como no caso de Tiago (At 12:2). A igreja que contava inicialmente com a simpatia de todos agora volta para as casas por motivo de segurança. Foi a perseguição dos judeus contra os judeus cristãos que chama a atenção dos romanos e começa a perseguição romana contra os chamados cristãos. Nem assim a igreja para de crescer e multiplicar. Por este motivo a igreja fica em casas, mas não exclusivamente (At 19:9).
Pela história a igreja só foi permitida ter lugares oficiais para se reunir lá pelo anos 300 d.C. O próprio governo romano doou terras para a igreja. Claro que a igreja já não era mais a mesma como encontramos nas páginas do Novo Testamento. Muitas coisas aconteceram e a igreja de perseguida começou a perseguir.
Casa é um bom lugar para começar
Como a maioria das pessoas moram em uma casa, é natural que a igreja comece nos lares. Existem muitas vantagens para se começar em casa. Não existe custo, pois as despesas são mínimas. A igreja não tem que pagar água, luz, imposto, etc. Não tem a manutenção de um prédio para custear.
Casa é um bom lugar para morrer
Manter uma igreja em casa tem muitas desvantagens também. A família pode cansar da reunião mesmo que ela seja edificante. As despesas podem ficar maiores do que o planejado. Os problemas passam da igreja para a casa. Se o dono da casa não for um líder dificulta a continuidade da casa no lar. Se um dos membros da casa se desvia (marido ou mulher) inviabiliza a sua manutenção. Se a igreja precisar usar outra casa muitos vão criar muita resistência em ter a igreja em sua própria casa. Crianças e jovens são sacrificados por igreja em casa. Nem sempre a igreja pode começar e ou continuar numa casa onde tenha espaço suficiente para ter um lugar próprio para as crianças e para os jovens. Ministérios não acontecem em casa como deveria. Uma igreja que se confina numa casa seja por supostos motivos doutrinários ou filosóficos raramente desenvolve ministérios para servir a igreja como a igreja exige.
Uma igreja que continua nas casas pela história não tem futuro. Não é impossível, mas o desenvolvimento de líderes e presbíteros é dificultada pela igreja em casa. Dificilmente a igreja consegue ficar numa mesma casa por muitos anos. Inevitavelmente as consequências existem de se manter a igreja em casa. Se a igreja precisa mudar para uma outra casa, sempre perde alguns membros nesta mudança e se as mudanças precisam ser constantes, perde cada vez mais membros.
Continuar em casa é estagnação
Uma igreja em casa sofre, inevitavelmente, de estagnação. O crescimento numa igreja em casa é limitado pelo tempo e espaço. Além de não crescer a ‘filosofia’ de se ter igrejas unicamente em casa torna alguns de seus membros radicais a ponto de não considerarem irmãos pessoas que se reunem em prédios próprios e legalmente registrados. Ter igreja em casa não é pecado como também não é pecado ter igreja num prédio. Existem vantagens e desvantagens em todos os lugares, mas nada disso deve impedir a comunhão entre os que obedeceram o evangelho em casa e entre os que obedeceram o evangelho num prédio. Nada deve impedir o crescimento numérico do reino de Deus. Pecado é impor uma opinião sobre os outros como doutrina (Romanos 14). Criar radicalismo não é o objetivo de se começar a igreja em um lar ou de trabalhar para a igreja crescer usando um prédio.
Tenhamos cuidado com os extremos. Radicalismo afastando irmãos e pessoas de fora do amor de Cristo nos leva à condenação. O objetivo é fazer discípulos de Cristo indo ao mundo todo. A pregação é o evangelho e não o lugar onde vamos obedecer o evangelho.
Paulo mesmo usava a sinagoga enquanto era convence e também alugava lugares para se reunir com a igreja e ensinar as pessoas (At 19:8-10). Conforme ao que Deus vai nos guiando, devemos usar para pregar o evangelho. ESTE É O OBJETIVO! Tanto em casa quanto em prédios.
A igreja precisa crescer
A natureza da igreja é crescer, afinal cada membro é como uma pedra viva. Se ter igreja em casa limita o crescimento de uma forma natural, então a igreja naturalmente não só pára de crescer, mas começa a diminuir. O crescimento tem que ser completo tanto em número quanto em espírito. Se quisermos que a igreja como um todo cresça, precisamos plantar novas igrejas. Uma das maneiras mais práticas da igreja crescer geograficamente é através das casas, mas devemos começar igrejas em casas com o pensamento de que não é para sempre se a igreja quer e precisa crescer.
Dá pra crescer em casa, mas não está crescendo. Existe um limite natural de tempo e espaço para o crescimento da igreja. Seria bom que a igreja crescesse a tal ponto que ao invés de se mudar para uma casa maior pudesse se multiplicar, mas isto também não está acontecendo. Nem sempre a realidade responde aos nossos ideais.
Conclusão
Será que o lugar é tão importante assim? A igreja tem a missão mais importante do mundo e deve realizá-la onde está com o que tem. Desde que estamos neste mundo, somos influenciados pelos acontecimentos e até pela história que nos rodeia. Embora em nenhum lugar do VT mencione ou profetize a sinagoga, Jesus a frequentava quando chegou. Paulo pregava nas sinagogas aos sábados mesmo não sendo mais obediente ao VT. Por que vamos ser extremistas e nos basear em opiniões para, ao invés de fazer discípulos de Cristo pela obediência ao Evangelho, fazer radicais em opiniões.
Existem vantagens e desvantagens ter ou não igreja em casa ou em prédios. Estamos olhando para o foco errado. Estamos, como crianças, discutindo se a bola é redonda ou se a bola é vermelha. Jesus poderia ter sido mais claro sobre o local onde a igreja deveria se reunir, mas Ele instruiu a fazer discípulos. Dá pra entender que a igreja é um organismo vivo e não é controlável por paredes? Não importa se as paredes são numa casa ou num prédio ou mesmo a ausência de paredes.
Ao invés de discutir, vamos trabalhar para a salvação. Pode ser num prédio ou pode ser numa casa. Vamos pregar o evangelho. Não somos nós os ceifeiros. Não devemos puxar o joio. Nós somos os semeadores.
Finalmente se faz necessário dizer para os que precisam entender que faltar ao culto, seja numa casa ou num prédio, é o pecado mais grave que alguém pode cometer depois de ter sido batizado. Não resta sacrifício, isto é, não tem o que mais possa ser feito, pois nos reunimos em torno do sacrifício de Jesus, morte e ressurreição. A pessoa precisa voltar ao convívio da igreja e manter comunhão com os irmãos para voltar a andar na luz e viver uma vida justificada perante Deus e, fazer o culto sozinho não é comunhão e andar na luz, pelo contrário.