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Internet e Tecnologia Ilimitada

É comum, na busca por dar espaço aos nossos filhos, confundirmos liberdade com abandono emocional. Vivemos em um mundo onde a tecnologia é ubíqua, e a presença constante de redes sociais e dispositivos móveis se tornou a norma. No entanto, entregar o controle total desses ambientes digitais a uma criança ou adolescente sem a devida supervisão não é um ato de confiança ou de concessão de autonomia, mas sim uma forma perigosa de desamparo. A verdadeira liberdade, sob a perspectiva de quem busca praticar a vontade de Deus, está alicerçada na responsabilidade, na proteção e no direcionamento amoroso.

O Risco da Confusão: Abandono Disfarçado de Autonomia

A realidade é inegável: as crianças de hoje “nascem” no ambiente digital. A Galinha Pintadinha na tela do celular é frequentemente um dos primeiros contatos com o mundo. Mas quem coloca o celular na mão delas? Quem provê a internet e o aparelho? Quem paga a conta da energia, da Internet, etc? Somos nós, os pais e responsáveis. Este ponto é crucial, pois a responsabilidade pela exposição e pelo tempo de tela não pode ser transferida para a criança.

Quando um jovem passa horas e horas na rede social, ele está sendo bombardeado por conteúdos para os quais, muitas vezes, não tem condição emocional de processar ou resistir. A história da mãe que perdeu seu filho de 14 anos, levado a participar de um desafio perigoso de perda de ar incentivado em uma plataforma online, é um alerta dramático. Seu maior lamento: “O meu maior arrependimento era não olhar o que o meu filho estava fazendo. O meu maior arrependimento era deixar meu filho horas e horas e horas na rede social.”

O papel primordial é nosso, o de proteger e guiar, não o de esperar que a criança ou o adolescente se retire sozinho de um ambiente viciante e, por vezes, tóxico. Isso ressoa com o princípio bíblico de disciplinar e instruir. Em Provérbios 22:6, lemos: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele.” Esta instrução não é apenas sobre o caminho da fé, mas sobre o caminho seguro da vida; hoje, esse caminho seguro passa inevitavelmente pela tela. A ausência de vigilância parental no ambiente digital é, na prática, um abandono do dever de cuidado.

A Verdadeira Posição de Fé e Proteção

1. Assumir a Responsabilidade Parental e Espiritual

O cristianismo nos chama a sermos vigilantes (1 Pedro 5:8 – “Sede sóbrios, vigiai…”). Essa vigilância deve se estender a todas as áreas da vida dos nossos filhos, incluindo o que eles consomem digitalmente. É fácil cair na ilusão de que estamos dando a eles “liberdade” quando, na verdade, estamos fugindo do nosso trabalho de supervisão constante e muitas vezes desgastante.

A verdade é que a fé em ação exige que nos posicionemos. Não podemos ter medo de ser o adulto na relação. Se a criança não tem maturidade para pagar a conta do celular e da internet, ela certamente não tem maturidade para discernir sozinha todo o conteúdo que essas ferramentas proporcionam. O amor de Deus por nós é um amor que nos corrige e nos disciplina (Hebreus 12:6). Da mesma forma, nosso amor pelos filhos deve ser um amor que estabelece limites protetores.

2. Aumentar a Fé Através da Prática

Como usar a nossa fé para lidar com esse desafio? A fé não cresce apenas lendo a Bíblia, mas aplicando-a em nossa vida prática. O ato de retirar o celular quando necessário, de estabelecer horários, de monitorar o conteúdo e de conversar abertamente sobre os perigos online é um exercício de fé, pois exige coragem e confiança de que estamos fazendo o que é certo, mesmo que seja impopular.

Tiago 1:22 nos exorta: “Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes…” Cumprir a Palavra, neste contexto moderno, é proteger ativamente o nosso lar e a mente dos nossos filhos. É um testemunho de que valorizamos mais a segurança emocional e espiritual deles do que a conveniência de um aparelho que os mantenha ocupados.

3. O Foco no Discipulado e no Exemplo

O discipulado não para na porta da igreja; ele deve ser vivido dentro de casa. O nosso papel é fornecer o fundamento sólido que resistirá às tempestades de informações e pressões sociais. Mateus 7:24-27 fala sobre construir a casa sobre a rocha. A rocha é a Palavra de Deus e a sabedoria que dela emana.

Um filho ou filha que é constantemente bombardeado por desafios, comparações e toxicidade online tem sua “casa” emocional e espiritual sendo construída na areia. Ao assumirmos o controle, estamos fornecendo a eles o tempo e o espaço para desenvolverem a resiliência e o discernimento que não podem ser formados em um ambiente de sobrecarga digital. É preciso presença real para que o desenvolvimento emocional seja saudável.

Conclusão: O Amor Exige Presença

A tragédia que mobilizou aquela mulher a alertar outras mães nos deixa uma lição indelével: o arrependimento por não ter protegido é um fardo pesado demais para carregar. A vontade de Deus, em sua essência, é que vivamos em vida plena (João 10:10). Essa plenitude não se encontra no isolamento online, mas na conexão real, no desenvolvimento de um caráter firme e na capacidade de fazer escolhas sábias.

A verdadeira liberdade de um filho é a liberdade de crescer em um ambiente seguro, onde seus pais, por amor e responsabilidade, definem limites claros. Não é “inevitável” que a tecnologia nos roube a presença e a alma dos nossos filhos. Inevitável é o nosso dever de pais e mães: o de proteger, guiar e amar ativamente. O papel de tirar a criança de um ambiente de risco é nosso, e cumprir este papel é uma forma prática e poderosa de viver a fé.