O Evangelho depende da hospitalidade. Quando Jesus enviou os setenta discípulos para a sua primeira viagem missionária. O objetivo de enviá-los foi para preparar o caminho de Jesus:
“…e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir” (Lc 10:1).
Jesus os advertiu sobre o procedimento antes de tudo e depois sobre a hospitalidade. Deus está abrindo a porta à palavra, convém a nós fazer com que Jesus, por nosso intermédio, esteja naquela casa.
Jesus, como um homem de propósito estampado no rosto, não foi recebido pelos samaritanos, mas a viagem continuaria em prol da salvação da humanidade. Por isso Ele enviou predecessores. O objetivo de Jesus era bem claro: ir para Jerusalém. A viagem de Jesus para Jerusalém, no Evangelho de Lucas, começa no capítulo 10 e só vai terminar no capítulo 19 e o último a hospedar Jesus é Zaqueu.
“Jesus entrou em Jericó, e atravessava a cidade. Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos. Ele queria ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não o conseguia, por causa da multidão. Assim, correu adiante e subiu numa figueira brava para vê-lo, pois Jesus ia passar por ali.” (Lucas 19:1-4)
Desde há muito os homens procuram seu lugar na sociedade e não é qualquer lugar que serve. Muitos de nós gostaríamos de ter o lugar de Zaqueu na sociedade. Ele era o maioral dos cobradores de impostos e rico. A maioria das vezes nós queremos mais este segundo adjetivo de Zaqueu, pois ele traz o primeiro adjetivo que é a importância social. Ainda que muitas vezes repitamos que o dinheiro não compra tudo. “Não importa quantas vezes nos queiram provar que o dinheiro não traz felicidade: a gente vai sempre querer lhe dar uma nova chance.”
A vida de Zaqueu não é exatamente o que buscamos, porque para Zaqueu junto com a riqueza veio a instabilidade da riqueza. Descobrimos isto nas entrelinhas e no contexto da história deste homem importante por um lado e insignificante por outro. “Não há homem mais pobre do que aquele que tem apenas dinheiro.”
A vida de Zaqueu era uma vida solitária. Os únicos relacionamentos que ele tinha eram com os seus subordinados. E nestes relacionamento ele era o maioral. Além disso ele não tinha amigos.
Zaqueu servia ao governo romano. Você já pensou ser um judeu e servir um estrangeiro do qual eles não tinham permissão nem de chegar perto. Zaqueu precisava quebrar as regras para manter o seu padrão de vida. Os judeus consideravam qualquer estrangeiro como um animal imundo perante Deus.
Zaqueu amava o dinheiro e talvez até então não tinha encontrado motivo nenhum para deixar de amá-lo. Era o dinheiro que lhe dava o ‘status’ que lhe faltava na estatura, na consideração dos próprios patrícios e dos subordinados que em sua frente juravam ser seus amigos.
Aquele dia para Zaqueu começou como um dia qualquer; um dia a mais para fazer contas e fazer visitas desagradáveis de cobrança. Mas Jesus tinha chegado na cidade para promovê-lo à eternidade. Provavelmente ele já tinha ouvido o nome de Jesus antes. Acredito que foi por uma dupla daqueles 70 discípulos enviados. Por isso ele se esforçou para ver quem era Jesus pessoalmente. Você consegue ver um homem como Zaqueu tentando ver Jesus? Ele estava procurando uma brecha no meio da multidão para poder vê-lo. Eu acredito que naquele momento quem podia pisar no pé de Zaqueu pisou. Quem conseguia tirar um desconto dos impostos que ele cobrava, ou roubava, tirou. A única vantagem que muita gente tinha sobre Zaqueu era física. Talvez intelectualmente Zaqueu fosse um destaque na matemática, um empresário que trabalhava com a lei da vantagem ao seu lado. Você consegue enxergar um pouco mais longe lá no passado e ver um homem com sandálias caras, roupas de linho finíssimo e com um rosto aparentemente saudável e rosado subindo numa árvore? Então você consegue ver Zaqueu. É a mesma cena inusitada de hoje, um homem de sapatos caros, terno e gravata humilhando-se para ter o que o dinheiro não pode comprar.
E lá estava aproximando-se Jesus. Centenas ou milhares de pessoas o rodeavam. Jesus não tinha tempo de atender tantos pedidos que se faziam enquanto ele passava. Alguns conseguiam obter bênçãos mesmos na passividade de Jesus tocando-lhe as vestes com fé. Imagine novamente a multidão se acotovelando para ver Jesus. Zaqueu mesmo tinha levado umas boas e merecidas cotoveladas. Agora Zaqueu estava lá vendo aquele homem que não tinha a metade da importância social que ele tinha e que vivia da caridade das pessoas, mas era muito mais importante que tudo o que Zaqueu tinha. Por um momento Zaqueu pode ter entendido que dinheiro realmente não compra tudo. Neste ponto Jesus se convida para a casa de Zaqueu. Entre centenas ou milhares de pessoas Ele chamou a Zaqueu pelo nome, sem nunca ter sido apresentado a ele. No meio da multidão, Jesus olhou direto para os olhos de Zaqueu. Zaqueu não conseguiu tocá-lo nas vestes por causa das suas limitações sociais e físicas, mas Zaqueu tocou Jesus no coração.
“Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: “Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje”. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria. Todo o povo viu isso e começou a se queixar: “Ele se hospedou na casa de um ‘pecador’ “. (Lucas 19:5-7)
Um professor um dia contou sobre uma viagem exótica que ele fez. Ele foi para a Rússia ainda durante a guerra fria e sob a cortina de ferro daqueles tempos comunistas naquele país. Ele estava andando na cidade quando, de repente, ele ouviu o seu nome sendo chamado do meio da multidão. Era bem característico o som do seu nome porque não havia sotaque e era de alguém que falava português. Lá no meio da multidão, num país onde a língua é totalmente diferente do português ele encontrou um conhecido. Imagino que Zaqueu teve este mesmo sentimento ao ouvir Jesus chamando pelo seu nome. Talvez ele pensasse que era o último que teria esta oportunidade, por isso ele desce mais depressa do que subiu naquela árvore.
Jesus se convidou para ter um contato pessoal com Zaqueu e o Evangelho depende da hospitalidade à qual prontamente foi oferecida por Zaqueu. Zaqueu nunca tinha sentido tanta importância na vida como naquele dia e ele não precisou gastar nenhum denário pela atenção de Jesus.
Jesus arriscou muita coisa por uma alma perdida. Quase consigo escutar o murmurar no meio do povo falando que Jesus estava indo na casa dele porque Zaqueu tinha dinheiro. Mas ouço claramente uma reclamação verdadeira: “…Ele se hospedara com homem pecador.” Graças a Deus! Jesus está disposto a entrar na casa dos pecadores. Todos temos chances de receber Jesus em casa para uma conversa sincera.
“Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: “Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais”. Jesus lhe disse: “Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido”. (Lucas 19:8-10)
Acredito que o que Jesus menos fez naquele dia foi comer. De vez em quando tento sentar naquela mesa com Jesus, Zaqueu, os discípulos e outras pessoas, só para ouvir Jesus. Tento compor as palavras de Jesus para levar Zaqueu a uma decisão tão autêntica como aquela. Talvez Jesus tenha dito para Zaqueu: “Vende o que tem, dá aos pobres e me siga… Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus… Não acumuleis tesouros que pode se deteriorar, ser roubado e é instável. Deposite o seu tesouro nos céus e cuide dele com o seu coração… Você não pode servir a dois senhores; porque há de aborrecer-se de um e amar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
Seja lá o que Jesus tenha dito, foi o suficiente para amolecer o coração de um homem sem amigos e desprezado. Foi o suficiente para levar um homem arrependido a ação imediata. Ele surpreendeu a todos levantando-se repentinamente, menos a Jesus. Levantou-se de um salto que talvez por um momento até pareceu ser maior do que realmente era. Levantou-se resoluto: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais.” Poderíamos pensar por um momento que Zaqueu só queria fazer uma ‘média’ com Jesus ali presente, mas espere, antes de decidir ouça as palavras de Jesus: “Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o perdido.”
Trecho do livro: “Planejamento Para Fazer Discípulos“