Fui um membro engessado… eu explico. Fiz parte de uma congregação que mais parecia uma repartição pública do que uma igreja que deveria ser um lugar seguro e confiável para crescer em Cristo. A graça tinha perdido a graça (me desculpem o trocadilho). Vivíamos pisando em ovos e com medo de falar qualquer coisa, pois alguém poderia se ofender. Se alguém tinha boa vontade de fazer alguma coisa, precisava apresentar um projeto escrito e sempre fazer uma reunião para decidir e ser sabatinado. Nada era feito por conta dessa burocracia em nome da ordem. Existiam regras para tudo e a alegria foi minada. Logo, uma congregação que tinha um enorme potencial, não era um lugar de liberdade e alegria em Cristo, mas de regras.
Embora a palavra legalismo não esteja no vocabulário bíblico, está na atitude de muitos que se dizem crentes em Cristo. É o império da lei acima da graça e vai além. É a atitude de se criar regras supostamente apoiadas ou não em textos bíblicos baseados em opiniões ou mesmo em estudos do grego. Legalismo é fazer uma lei ou regra para tudo e se tornar inflexível para com o próximo. O legalismo não dá espaço para a misericórdia e cria sentimentos de arrogância e superioridade inferiorizando e condenando ao próximo. É a atitude de proibir por proibir ao invés de ser condescendente com o que é fraco, partindo do ponto de que você seja mestre na palavra.
O legalismo é criar recompensa por obediência e um processo e desempenho. Esta recompensa é só teórica, pois só Deus é quem pode abençoar quem obedece a palavra e não as regras humanas e uma coisa exclue a outra.
Contextualizando a Lei
O Velho Testamento é muitas vezes chamado de Lei no Novo Testamento. Os livros da Lei do Velho Testamento são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Esta era a base de todo o Velho Testamento e o restante se apoiava no que foi dito por Deus a Moisés. Tanto os profetas quanto os salmistas não criaram leis novas, mas chamavam o povo para obedecer o que já tinha sido escrito.
Hoje, de acordo com os apóstolos, todo o Velho Testamento foi sombra e Cristo é a realidade (Colossenses 2:17). O Velho Testamento serviu como um guia para chegar em Cristo e chegando em Cristo, não devemos voltar para a escravidão da Lei. Quem obedece somente um mandamento do Velho testamento cai da graça de Cristo e perde a salvação (Gl 3:23-25; 5:1-4). O apóstolo Paulo fala claramente que estar debaixo do Velho Testamento hoje é estar debaixo de maldição (Gl 3:10). O Velho Testamento hoje nos é útil para nos ensinar e ser exemplo para que não sejamos como aquele povo que viveu debaixo da Lei (Rm 15:4; 1 Co 10:1-11).
Como discípulos de Jesus precisamos entender que ninguém hoje pode vir pregar o Velho Testamento como se fosse a nossa lei (Cl 2:20-23).
Resumindo bem este ponto, deixemos a palavra com o apóstolo Paulo:
“Porque o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê.” (Rm 10:4)
Por muitas passagens tanto do Velho quanto do Novo Testamento está claro que Deus não queria a Lei, mas a graça e a misericórdia. Por que nos submeteríamos novamente à ordenanças humanas mesmo que supostamente baseadas no Novo Testamento?
“Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás” (Salmos 51:17)
Por Que Precisamos Saber Sobre Legalismo?
O legalismo não é uma boa atitude neotestamentária. Aprendemos a partir de Jesus que vivemos a fé pela graça e obras da fé. Se nós fossemos discípulos dos fariseus, tudo bem, seríamos legalistas e seria normal, mas eles se tornaram adversários voluntários de Jesus exatamente por causa do legalismo deles. Jesus não deixou passar em branco, pelo contrário, ele registrou a atitude deles:
“Ele respondeu: “Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’. Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens”. E disse-lhes: “Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecer às suas tradições!” (Marcos 7:6-9)
Precisamos saber o que é legalismo para que nós também não caiamos e nem sequer aceitemos legisladores que tentam impor suas opiniões sobre a igreja que deve obediência a Cristo. Se nós quisermos saber a vontade de Jesus para nós, já temos a Lei da Liberdade nas palavras de Cristo e dos apóstolos. Na prática, legalismo significa, a pretexto da ordem, colocar regas acima de Jesus e dos apóstolos.
Jesus mostra como agem os que são legalistas e os define como os “confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros”:
“A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola:
“Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. “Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’. “Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. (Lucas 18:9-14)
Acredito que já conseguimos entender o conceito, mas temos exemplos para que possamos não ter dúvida nenhuma o que é legalismo e como evitá-lo em nossas vidas e na prática da igreja. O legalista se prende em detalhes como os preceitos do Velho Testamento e opiniões inclusive procurando fundamentos no Novo Testamento. No caso, o sábado vai ser o exemplo, mas hoje, vivendo e praticando o Novo Testamento, podemos cair em erros semelhanres.
“Saindo daquele lugar, dirigiu-se à sinagoga deles, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. Procurando um motivo para acusar Jesus, eles lhe perguntaram: “É permitido curar no sábado? ” Ele lhes respondeu: “Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado”. (Mateus 12:9-12)
Quem age de forma legalista fica procurando motivo para acusar ao invés de procurar motivo para justificar. Se procurarmos motivos para condenar as pessoas, acharemos inúmeros, mas Jesus é mais do que qualquer motivo de acusação. Acusador é o significado do nome de satanás. O legalismo cria um solo árido e a igreja fica estagnada e começa a morrer. Quem age de forma legalista está tentando se proteger da sua própria desobediência através dos outros.
Legalismo não é legal e nem tudo que é legal é Legalismo
Legalismo não é bom, mas não devemos considerar que ordem e descência seja legalismo. Tenhamos cuidado e rotular os irmãos de legalistas e mesmo se encontramos algum legalista em nosso meio, devemos tratá-lo com amor sem deixar que suas regras sejam maiores do que a graça. O legalista faz legalismo até com o que é lei. Não devemos ser ou seguir o legalismo, mas isso não significa que vivemos libertinamente, pelo contrário.
“Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade” (Tiago 2:12)
Estamos numa situação bem mais rigorosa, apesar de estarmos debaixo da graça. Rigorosa porque se nós rejeitarmos a graça, não resta mais o que fazer. Jesus não vai morrer de novo para nos perdoar os pecados. Viver deibaixo da graça é coisa séria e não devemos considerar como ‘pérola na boca de porcos’.
A graça, como bem sabemos por Tiago, não nos exime de praticarmos obras. Fé e obras andam juntas como amor a Deus e ao próximo.
O Legalismo Está Ligado à Hipocrisia
Precisamos desconfiar daqueles que querem fazer regras e regimentos internos para conduzir as pessoas de acordo com os pensamentos humanos. Devemos confiar na Palavra que é poderosa para criar fé verdadeira (Rm 10:17), aperfeiçoar (1 Tm 3:15, 16) e salvar a nossa alma (Tg 1:21). Quando uma pessoa não tem confiança suficiente na Palavra, ela começa a criar novas regras em cima da graça de Cristo e até mesmo usando a graça como pretexto. Alguns começam a proibir cânticos, atitudes espontâneas, e julgar tudo como libertinagem ao invés da liberdade que precisamos ter até mesmo para errar. Logo identificamos intolerância, arrogância e afastamento por qualquer motivo. Quem quer fazer regras para tudo, é porque está lutando contra suas próprias cobiças e quer criar um ambiente para resguardo de si mesmo.
Paulo escreve para Timóteo alertando-o contra a atitude de hipocrisia. Meditemos nestas palavras para que sirvam de advertência para todos nós:
“O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que crêem e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração.” (1 Timóteo 4:1-5)
“Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.” (2 Timóteo 4:3,4)
Fujamos do Legalismo
“Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: “Não manuseie! ” “Não prove! ” “Não toque!”? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne.” (Colossenses 2:20-23)
Jesus falou contra esta atitude de religiosidade que não liga a Deus, mas às crenças inúteis dessa terra. Olhemos para as palavras de Jesus e nos desviemos do legalismo.
“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Por isso serão castigados mais severamente. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês. “Ai de vocês, guias cegos!, pois dizem: ‘Se alguém jurar pelo santuário, isto nada significa; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, está obrigado por seu juramento’. Cegos insensatos! Que é mais importante: o ouro ou o santuário que santifica o ouro? Vocês também dizem: ‘Se alguém jurar pelo altar, isto nada significa; mas se alguém jurar pela oferta que está sobre ele, está obrigado por seu juramento’. Cegos! Que é mais importante: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? Portanto, aquele que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele. E o que jurar pelo santuário, jura por ele e por aquele que nele habita. E aquele que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele se assenta. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas. Guias cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo.” (Mateus 23:13-24)
Paulo lidou muito com o legalismo por estarem saindo do Velho Testamento e entrando na graça de Cristo. Os religiosos judeus começaram a perseguir os discípulos de Cristo por usarem o Velho Testamento para pregar sobre a graça e não sobre a Lei. O livro de Romanos mostra Paulo tratando de questões de opiniões. Não é pecado ter opiniões, mas não devemos impor nossas opiniões como regras para outras pessoas, mesmo que a consideremos fracas na fé. Se a consideramos assim, então devemos ter maior cuidado com elas (1 Co 12:23).
Sugiro que você deveria ler o capítulo 14 de Romanos. Esta passagem serve como base para pensar como agir em questão de opiniões. Vamos a alguns pontos para que possamos pensar:
“Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está de pé ou cai. E ficará de pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.”
“Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.”
“Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus.”
Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão.”
“Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, que isso permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova.” (Romanos 14:4, 8, 10, 13, 22)
Conclusão
O legalismo é uma realidade no mundo religioso. As pessoas até gostam de algumas regras que as levem a algum resultado, mas nenhum homem tem o poder de prever os resultados baseados em regras criadas por homens. Se há uma regra a ser respeitada é a regra que nos leva à salvação: ouvir a palvra, crer, arrepender, confessar Jesus como seu Senhor, batizar e permanecer fiel.