“Há perdidos na igreja?” é a pergunta que foi abordada na edição de novembro de 2016 do boletim Amo Jesus.
Já ouvi e li vários comentários a respeito da parábola contada por Jesus, chamada do trigo e do joio. Há posições, a meu ver, extremadas em duas posições.
“Pois, assim como o joio é colhido e lançado no fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.” – Mateus 13:40-41
Há alguns que entendem que na igreja existem salvos e perdidos e até entendem, baseada nesse ensinamento do Senhor, que devemos deixar que Deus faça a limpeza na igreja no juízo final. Outros, com esta mesma posição, bancam os “detetives espirituais” dos irmãos, sempre procurando os pecadores da igreja e dispostos a “purificar” o reino de Cristo.
A segunda interpretação, baseada no fato de Jesus interpretar o campo como o lugar onde são semeadas as sementes, entende existir perdidos somente no mundo e não na igreja, o reino de Deus aqui na terra.
Creio que ambas as interpretações têm pontos verdadeiros e pontos equivocados.
O que atrapalha a interpretação dessa parábola é a maneira como reduzimos a expressão “igreja” e “reino de Deus”, em razão de nossa herança católico-judaica, que interpreta igreja como o lugar de nossas reuniões. Há expressões errôneas que utilizamos “você vai estar na igreja domingo?” ou “quando estamos na igreja é fácil ser cristão, fora dela, é bem mais difícil”.
Porém, nada melhor que vermos nessa parábola encontrada no livro de Mateus, o único evangelho onde aparece o termo igreja ligado a ideia de reino de Deus (Mateus 16:18-19) para entendê-la melhor.
Sim, no dia de Pentecostes Jesus estabeleceu seu reino da cidade de Jerusalém, tendo a adesão imediata de quase 3 mil pessoas, que logo chegou a 5 mil e a milhares e milhares. Com certeza, com esse número, os irmãos não se reuniam somente no templo judaico, mas em qualquer lugar possível em grupos menores. Assim, baseado na ideia de Jesus de que o reino “é dentro de vós” (Lucas 17:21) ou internamente na vida de cada seguidor seu, não existem perdidos dentro da igreja espiritual, que somente Deus conhece plenamente, são todo salvos.
Porém, quando pensamos em pessoas que se relacionam e se reúnem conosco, pode, sim, haver perdidos, mesmo entre aqueles que foram batizados (muitas vezes por motivos errados) e que frequentam conosco nos cultos dominicais e demais reuniões da igreja. Como disse a parábola, o joio, que representa os perdidos, é parecido com o trigo, os salvos. Podem até falar de Jesus, ter uma linguagem bíblica, mas sua vida interior ou quando não reunido com os irmãos, pode ser uma vida falsa, de hipocrisia. São aqueles que gostam de causar problemas de divisões, que quase sempre estão prontos para atrapalhar, porém, exteriormente, mantém uma aparência de santidade.
Jesus não está dizendo que não disciplinemos os pecadores não arrependidos. Há orientação dele no mesmo livro de Mateus, 18:15-22. Quando há pecado claro e sem arrependimento, temos que agir. Porém, não precisamos ser “detetives espirituais” de ninguém, o Senhor da igreja já faz isso.
Assim, para a pergunta “há perdidos na igreja?”, a resposta é NÃO se entendemos ser a igreja espiritual formada pelos salvos por Jesus. Porém, nem todos que frequentam as reuniões, mesmo entre batizados, ou mesmo constam na lista de membros são os salvos por Cristo. Acredito que teremos surpresas no dia final, uma vez que, mais do que a aparência, Deus julgará o segredo do coração de cada um de nós (Romanos 2:16).
Finalmente, precisamos nos manter salvos, pois a salvação pode ser perdida. Porém, este assunto fica para outro artigo.
Há perdidos na igreja? Na igreja visível, sim, na espiritual, não. Que naquele dia sejamos mais do que frequentas nas reuniões no prédio, mas que, todos os dias, estejamos na igreja, pois, enquanto olharmos para Jesus, jamais sairemos dela.