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Aprendendo Pregar Com o Cinema

Se você é como eu, deve gostar de bons filmes. O problema é encontrá-los. Por outro lado, existe a questão do tempo, isto é, perder o tempo assistindo filmes e tirando pouco proveito. Todo filme que assisto eu procuro pelo menos uma frase ou ilustração que possa usar em algum momento. Muitas vezes a gente descobre que perdeu tempo só no fim do filme.

Filmes não passam de histórias contadas de maneiras diferentes. Tem gente que gosta de ler a mesma história que os filmes contam em forma de livro. Outras pessoas dão preferência para um resumo contado por alguém do que ler ou assistir a história. Finalmente uma boa forma de aproveitar enquanto assisto um filme é aprender a contar histórias como eles, roteiristas e diretores, contam. Os filmes e as boas histórias são contadas da seguinte forma:

Introdução

Todo filme tem uma introdução. Se ela não for bem feita ou se você não gostar da introdução, todo o filme está comprometido. Agora note bem todos os filmes que você assistir, eles têm uma introdução para prender a atenção e que leva ao interesse de ficar preso por, pelo menos, uma hora e meia. Todo esse tempo sentado para assistir a um filme depende da introdução.

Se você já assistiu o Resgate do Soldado Ryan você pode lembrar que ele tem uma introdução que te prende. A história começa com um prólogo em que um veterano leva sua família ao cemitério americano na Normandia, e um flashback se junta ao capitão John Miller (Tom Hanks) e GIs em um navio fazendo a aproximação no dia 6 de junho de 1944 à praia de Omaha (o dia D). para enfrentar o devastador incêndio da artilharia alemã. Esse massacre em massa de soldados americanos é representado em uma sequência inesquecível de 24 minutos. Os homens de Miller avançam lentamente para finalmente conquistar uma edificação de concreto de onde os soldados alemães atiravam. A praia está repleta de corpos e um dos corpos com o nome “Ryan” estampado em sua mochila… Pronto, você já quer saber o resto da história…

Argumentos

Depois de uma introdução daquelas, você começa a ter mais informações sobre o objetivo do filme: salvar um soldado. O chefe do Estado-Maior do Exército, general George C. Marshall ((Este general é uma pessoa real)) (Harve Presnell), sabendo que três irmãos Ryan da mesma família foram mortos em uma única semana, pede que o irmão sobrevivente, soldado James Ryan (Matt Damon), seja localizado e trazido de volta para os Estados Unidos. O Capitão Miller recebe a tarefa e ele escolhe um tradutor, Upham (Jeremy Davis), hábil em linguagem, mas não em combate, para se juntar ao seu esquadrão. O capitão Miller tem um sargento de confiança, é o Sargento Horvath (Tom Sizemore), seguidos pelos soldados Mellish (Adam Goldberg), Médico Wade (Giovanni Ribisi), cínico Reiben (Edward Burns) do Brooklyn, o ítalo-americano Caparzo (Vin Diesel), e o religioso sulista Jackson (Barry Pepper), um ás atirador de elite que invoca o Senhor enquanto aponta seu rifle de alta precisão.

Tendo experimentado anteriormente a ação na Itália e no norte da África, o esquadrão se espalha por áreas ainda cheias de nazistas. Depois que eles perdem um homem em uma escaramuça em uma vila bombardeada, alguns no grupo começam a questionar a lógica de perder mais vidas para salvar um único soldado.

Cada cena apresentada, cada novo fato vai te afundando cada vez mais na poltrona e você quer que eles saiam todos vivos do enredo, mas o fim vai ser surpreendente…

Então, da mesma forma que o cinema conta histórias desta maneira e cria cola cada vez mais adesiva enquanto desenrola o enredo, as nossas mensagens devem ser envolventes.

Conclusão

Como já disse, o fim do filme tem um começo quando eles finalmente encontram o soldado Ryan. Eles têm que enfrentar uma última batalha já quase sem munições contra um pelotão dos nazistas que vem se aproximando da cidade onde Ryan e o seu agrupamento estão.

Quando o filme acaba alguns têm vontade de chorar e outros de levantar e aplaudir a história. Porém, tudo está baseado em princípios bem simples, mas muito bem estudados, elaborados e desenrolados. Os princípios são: começo, meio e fim, ou seja: introdução, argumentação e conclusão.

Agora, a gente senta no banco da igreja e espera ver um épico todo domingo e como é que saímos? Ah, o culto não é um show… verdade! O louvor não é entretenimento… verdade! A comunhão não é uma ficção… também concordo! No entanto, o culto não deveria ser coisa de amador. Neste caso estou me referindo à pregação. Tenho visto muitas pregações até aqui. Afinal são mais de 1800 cultos e, consequentemente, pregações que tenho presenciado nestes mais de 30 anos. Muitas, mas muitas pregações que todos ouvimos, não tem cabeça nem pé, nem introdução nem conclusão. A gente não acha o fio da meada. Isso quando a gente não sai com mais críticas do que edificação. Estas desculpas de que o culto não é show, entretenimento e ficção, não passam de desculpas para não dar trabalho e mudar para melhor. A morte de Jesus, motivo maior pelo qual estamos lá reunidos, é o principal momento da humanidade e não está certo se nós minimizarmos isso com nossa pobre apresentação (Deus está na platéia). Provavelmente estamos dando no culto todo o mesmo que a maioria dá na coleta.

Precisamos, sim, buscar ser como Apolo que era homem poderoso em palavras para pregar sobre Jesus. Mesmo Apolo precisou ser instruído, imaginemos nós, então, o quanto temos a progredir.

“E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Aqüila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.” (Atos 18:24-26)

Além do mais, é necessário que o servo de Deus tenha poder nas palavras que fala, pois a Palavra de Deus é de poder e coragem. Leia o que Paulo fala para Tito acerca do padrão que todos os homens devem ter de crescimento que são os presbíteros:

“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.” (Tito 1:9)

Irmãos, precisamos estudar mais sobre homilética, oratória e exegese para que nossas pregações realmente sejam como a Palavra de Deus, isto é, poderosa para admoestar na sã doutrina, convencer os que contradizem e salvar o perdido. Prepare-se de tal modo que ao final dê vontade de chorar ou levantar e aplaudir, mesmo que ninguém vá fazer isso, prepare-se porque você estará servindo ao Senhor dos senhores que merece toda honra e glória através da sua pregação.

Qual a Diferença Entre Aula e Sermão?

Um pregador estendeu-se por uma hora durante a pregação. No final ele quis saber de alguns membros o que acharam da mensagem. Todos foram muito polidos e alguns foram curtos na resposta. Finalmente o pregador decidiu perguntar para um irmão idoso conhecido por sua sinceridade. Ele dizia o que pensava sem nada a perder. Alguns o achavam ácido, outros admiravam a conquista de poder dizer o que se pensa sem se preocupar em agradar aos homens. O pregador perguntou:
– Então, irmão, o que achou da mensagem?
– Achei que a mensagem foi como uma espada.
O pregador logo pensou numa passagem de Hebreus que diz: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).
Então o pregador perguntou:
– A mensagem foi afiada como a palavra de Deus?
– Não! Respondeu o irmão – Foi longa, chata e fria…

Por que a pregação seria chata, se a fonte dela é a Palavra de Deus? Talvez por ser longa demais a mensagem possa se tornar chata e fria. Os pregadores precisam ser mais objetivos. Talvez faltem dois pilares de qualquer mensagem bíblica: oração e leitura. Outros motivos podem ser que as pessoas estão esperando da pregação uma atração tanto quanto encontram com facilidade em vídeos e publicações das redes sociais. Hoje os pregadores estão competindo diretamente com a comunicação digital. A igreja e, principalmente, esta geração, não aceitam mais pregadores medíocres. Os pregadores precisam saber qual é a diferença entre dar uma aula e fazer um sermão.

Existem alguns estilos de mensagens. Vou apresentar aqui 3 estilos. Dois deles devem ser usados para aulas bíblicas e aulas dominicais e um desses estilos é o melhor para sermões. Não existem estilos errados, existe o melhor para aulas e o melhor para pregação. Vamos analisar um pouco sobre estes estilos e quais deles se enquadram para aulas e para mensagens de púlpito. A maioria das pregações de púlpito ultimamente estão mais ligadas ao estilo de aulas do que a de sermões.

Mensagens em Tópico

Nas mensagens em tópico, o pregador ao preparar a mensagem a prepara tendo como base um título, ou seja, um tópico. Isto é bom para se tratar de assuntos que a igreja quer e precisa ouvir. É um estilo ideal para se usar em aulas. Encontra-se PROBLEMA PARA CONTEXTUALIZAR a mensagem textual desde que se usa várias passagens.

O título uma vez escolhido, tem-se a liberdade de se procurar as passagens que falam sobre o assunto escolhido. Por outro lado, para uma mensagem de púlpito, não é prudente fazer um tour pela Bíblia. Num culto você serve a Palavra de Deus para várias pessoas diferentes em idade, fase da vida, sexo, necessidades, etc. Dê preferência para tratar de assuntos usando este estilo em aulas durante a semana ou Escola Dominical.

Mensagem Textual

Na mensagem textual escolhe-se um texto. Pode ser um texto curto ou longo. O problema encontra-se muitas vezes na escolha do texto.  Algumas possibilidades de escolhas de textos e os perigos são:
Textos longo Cansam os ouvintes. ( Salmo 119 )
Textos obscuro Causam polêmicas no auditório. ( I Cor. 11:10 – o Véu)
Textos difíceis Os ouvintes não entendem. ( Ef. 1:3 – A Predestinação )
Textos duvidosos “E Deus não ouve pecadores” ( João 9:31 )

Mensagem Expositiva

Na mensagem expositiva o objetivo é explorar o que diz a Palavra de Deus. Tudo gira em torno da Palavra de Deus. É uma mensagem fácil de contextualizar. Tira-se do texto o título, a introdução, as argumentações e a conclusão. Leia o artigo “Como Preparar Mensagens Expositivas“.

Uma mensagem expositiva tem três pontos apreciados no seu conteúdo. Paulo instruiu a Timóteo que na pregação ele deveria dar ênfase a estes três pontos:

“Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.” (2 Timóteo 4:2)

Uma mensagem expositiva repreende, corrige e exorta todas as pessoas na igreja. Leia um artigo publicado sobre o assunto. É uma mensagem agradável de se ouvir. Os jovens gostam de ouvir mensagem que os corrija, que os repreenda, mas que também os anime (exorte). Muitas mensagens são tão negativas que as pessoas saem desanimadas do culto. Se tornam mensagens longas, chatas e frias.

A sugestão dos estudiosos é que o estilo expositivo seja o preferencial para se preparar e se apresentar mensagens no púlpito. Os demais estilos (tópico e textual) devem ser usados para aulas.

A Igreja Precisa Pregar Mais Sobre Cristo

Se sua congregação fechasse as portas, alguém na vizinhança sentiria falta? Se alguém fosse bater na porta dos vizinhos da congregação e perguntasse que igreja é essa, o que ouviria? Pense num mundo onde a igreja de Cristo não existisse… como seria este mundo? Porque depende de Cristo e a igreja é Dele, isso nunca vai acontecer, mas se a igreja toda fosse como você, isto é, de acordo com a sua imagem e semelhança, como seria esta igreja? Dependendo da sua fidelidade durante a semana, como seria a igreja? Dependendo da sua oferta dominical, como seria a igreja?1 E a igreja, afinal, é conforme você age.

Objetivo da Igreja

Numa campanha social numa congregação em São Paulo foram convidados todos os moradores da vizinhança da congregação. Mais de 300 pessoas foram atendidas e isso foi muito bom. Uma pessoa atendida confidenciou que sempre passava em frente ao prédio e pensava consigo mesma que era um posto de saúde e estava esperando a sua inauguração. Isto porque o prédio da igreja não tem característica de um prédio de igreja e, pior, a igreja não estava se comportando como igreja, pois se muitas pessoas não sabem o que acontece naquele prédio, só porque não tem característica de prédio de igreja popularmente reconhecido, então a igreja está falhando em pregar a Palavra e ir onde o povo está. É isso que Jesus e seus discípulos fariam… O triste resultado daquela campanha é que a igreja não sabia no final quem foram as pessoas atendidas para que recebessem atendimento espiritual… vergonha sobre eu mesmo…

O Fim da Igreja

Segundo um autor, analisando as estatísticas, as igrejas de Cristo vão acabar em 2042 nos Estados Unidos2. Vi esta realidade quando estive num culto de uma congregação americana onde não se contavam mais do que 45 pessoas num prédio suntuoso numa vizinhança classe média alta. Dependendo da nossa pregação, qual o futuro da igreja?

A igreja de Cristo Que Cresce

Conversando com um irmão daquela congregação ele disse que não eram todas as congregações da igreja de Cristo assim, não. A igreja dos ‘negros’, como disse ele, era animada e não parava de crescer. Eu quis saber por que o quadro era tão diferente entre os irmãos negros e os brancos? Ele respondeu:

– Todos os domingos o sermão é sobre Jesus e os evangelhos e eles não se cansam de fazer um apelo para à conversão.

Talvez você tem acompanhado os relatos da irmã Raisa das suas experiência missionárias na África e a impressão dela da igreja de lá. Talvez você saiba que não é incomum uma igreja de Cristo africana de fala portuguesa em Moçambique, acompanhada pelo irmão Tim Brumfield  ter até 20 batismos num dia. Por que? Eles estão pregando o evangelho, isto é, estão pregando Jesus Cristo, filho de Deus (ficou redundante, mas é isso que precisamos).

Vários irmãos aqui no Brasil estão experimentando o crescimento pregando o evangelho para grupos grandes nas várias Escolas da Bíblia espalhadas pelas congregações. Uma pregação atraente é falar sobre Jesus Cristo!

Jesus Cristo em Atos dos Apóstolos

Acabei de ler um artigo cujo título era o mesmo deste que escrevo3. Ah, não tô plagiando, não! Mas concordei mais com o título do que com o conteúdo do artigo e, concordando com esta verdade, decidi escrever um artigo incentivando que PRECISAMOS PREGAR MAIS SOBRE CRISTO.

Vamos ler novamente o livro de Atos e observemos os sermões que lemos e ouvimos, se quisermos, de Pedro (At 2:14-36; 3:11-24), Estevão (At 7), Felipe (8:5, 12, 13, 28-39), Paulo (At 9:19-22) e outros. Qual era o conteúdo do sermão deles? Jesus Cristo, Filho de Deus ressuscitado! Eles eram pregadores expositivos e repetitivos do evangelho. Eles ainda não tinham o Novo Testamento escrito ou completo como o temos hoje e, mesmo lançando mão da leitura ou citação do Velho Testamento, a conclusão era Jesus Cristo, Filho de Deus. Lembra qual foi o resultado em Atos? Ninguém tinha dúvida que ali, onde quer que eles estivessem, se reunia a igreja de Cristo.

Jesus Cristo é o assunto dos Atos dos Apóstolos e, temamos, não ser o assunto dos Atos dos Discípulos de hoje em dia. Jesus é a semente e Ele é bem fértil. Vamos colher no futuro, nos próximos meses, o que plantamos hoje.

Onde Pregar Jesus?

O local não é tão importante quanto a igreja. Podia ser numa casa, debaixo de um portão, na praça, num prédio ou debaixo de uma árvore. A igreja foi reconhecida não pelo formato do prédio, mas pela pregação sobre Jesus Cristo. Pregar sobre Jesus é que vai criar fé, salvar a alma e convencer do pecado do juízo e da justiça (Rm 10:17; Tg 1:21; Jo 16:7-11).

Vamos tirar os pregos das mãos de Jesus na cruz e vamos pregar Jesus nos púlpitos, nas casas, aos ouvidos, quer seja oportuno, quer seja incômodo… PRECISAMOS PREGAR MAIS SOBRE CRISTO!

João Cruz
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NOTAS

1 Em Verdade e Em Espírito – Cruz, João – Resgate Editora.
2 Dawson, Samuel G. – What Is Wrong With Most Churches of Christ?: & How They Can Avoid Extinction – DSG Press – 2010
3 The Church Must Preach Christ – https://goo.gl/0nDXxN