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Lavando os Pés Uns dos Outros

Lá nas minhas memórias do interior do Paraná, em uma cidadezinha chamada Ivaiporã, onde passávamos as férias na casa dos meus avós, não me recordo de tantas histórias quanto gostaria. Lembro de subir na laranjeira com um canivete para colher e descascar as laranjas até o entardecer. Estão gravados na memória tantos pôr do sol capturados pela alma… Corríamos e brincávamos com os primos experientes na vida no sítio, e essa foi a melhor rede social que tivemos na vida.

Correr, brincar, pular, no campo, no pasto, no chiqueiro… as crianças precisavam de um banho e, numa casa simples sem energia elétrica, o dia terminava com o pôr do sol. As crianças tomavam banho às 5:30 da tarde. Jantávamos por volta das 7 da noite, e depois meus tios cantavam músicas enquanto tocavam violão, meu avô contava histórias e nós crescíamos na frente deles. Na hora de dormir, lá pelas 8:30, 9 da noite no máximo, já tínhamos sujado os pés no chão de terra. Uma bacia com água e sabão nos aguardava ao lado da cama para lavar os pés antes de deitar. Com os pés limpos, podíamos sonhar com um novo e belo dia para tentar repetir tudo novamente, mas da melhor forma possível…

A trajetória das nossas vidas frequentemente nos remete à infância, um período crucial de formação segundo a psicologia. Nossa personalidade é moldada nesses primeiros anos, até os sete anos de idade. Contudo, a vida é um aprendizado contínuo, e ao longo dos anos, até mesmo em nossa velhice, temos a oportunidade de nos transformar. No entanto, há memórias da infância que permanecem inabaláveis, independentemente da nossa experiência. A casa da minha avó, localizada no interior do Paraná, evoca lembranças vívidas e experiências que se relacionam com os ensinamentos de Jesus.

Assim como Jesus, que se inclinou para lavar os pés de Seus discípulos (João 13:1-17), minha avó também nos ensinou lições profundas por meio de atos simples e simbólicos. Na casa dela, o dia terminava quando o sol se punha, e as crianças, após seus banhos, compartilhavam histórias e momentos especiais. Eram tempos sem os confortos da tecnologia moderna, mas paradoxalmente, essas ausências nos aproximavam de Deus e uns dos outros.

Ao lavar os pés de Seus discípulos, Jesus demonstrou a essência do serviço e da humildade (João 13:14-15). Ele, o Senhor e Mestre, realizou um ato que normalmente era executado por servos e escravos. Pedro, inicialmente relutante, compreendeu o significado profundo desse gesto e permitiu que Jesus lavasse seus pés. Jesus enfatizou que Seus seguidores também deveriam lavar os pés uns dos outros, simbolizando a importância do perdão e da reconciliação (João 13:34-35).

Assim como Pedro, que inicialmente resistiu ao gesto de Jesus, muitas vezes lutamos para perdoar e servir aos outros. No entanto, ao olharmos para o exemplo de Cristo, percebemos a necessidade de vencer nossas barreiras pessoais e praticar a humildade e o perdão. Afinal, Jesus nos lembra que, se Ele, o Senhor, foi capaz de se humilhar e servir, então também devemos seguir esse caminho (Filipenses 2:5-8).

Lavar os pés uns dos outros não se limita a um ato físico, mas reflete uma atitude de coração. Jesus nos instrui a perdoar e amar, independentemente de nossa história ou falhas passadas. No momento em que lavamos os pés uns dos outros, testemunhamos o amor de Cristo em ação. Assim como Jesus lavou os pés de Judas, o traidor, devemos estender nossa compaixão mesmo àqueles que nos feriram (Mateus 5:44).

Ao refletirmos sobre a experiência de lavar os pés, somos lembrados de que a humildade e o perdão são pilares do ensinamento de Jesus. A analogia dos pés lavados nos recorda que, enquanto buscamos crescer espiritualmente, devemos permanecer humildes e dispostos a servir uns aos outros, independentemente de nossas diferenças. Que possamos emular o exemplo de Cristo e seguir Seus passos, lavando os pés uns dos outros e testemunhando o poder transformador do amor e do perdão (Efésios 4:32).

A Bíblia ensina que os homens devem erguer mãos santas (1 Timóteo 2:8). Esta é uma analogia para dizer que, ao se apresentarem ao Senhor, devem mostrar que não têm nada que os condene, pois suas mãos estão limpas. Qual é a melhor forma de ter mãos puras do que lavar os pés até mesmo daqueles que não merecem? Aquele que lava os pés dos outros, lava também as próprias mãos. Ei, eu não mereço, e aquele que é o meu Senhor lavou e continua lavando meus pés todos os domingos.