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O sofrimento Nos Dá Escolhas

Só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas. (Salmos 147:3)

Era uma vez uma menina que tinha um avô. Para ela, o avô era o “vovô”, um homem honesto, figura presente que, na garupa da bicicleta, a levava à feira livre, levava para tomar vacina, buscava na escola e ensinava sobre a história da cidade… o vovô gostava de comer, andar de chinelos e boné, consertar coisas e ouvir rádio.
Às vezes, a fala do vovô mudava. A menina passava por ele a caminho da sua casa e ele parecia alegre demais com aqueles homens estranhos rodeado de copos e garrafas de cheiro estranho. A mãe não deixava que ela entrasse naquele lugar, pois “bar não era lugar de criança”. A menina não sentia raiva, nem vergonha, nem medo daquele avô; ela conseguia perceber que mesmo com aquela “diferença” ele ainda era o vovô.
Mas, ela também não era ingênua de achar que aquilo era “normal”, pois enxergava a indignação da avó diante do comportamento dele, via a tristeza e decepção nos olhos da mãe e dos tios e percebia o quanto isso mudava o clima agradável e acolhedor da casa dos avós. Quando o vovô bebia, as visitas eram curtas demais, sérias demais, tensas… o vovô ficava alegre, porém um alegre desagradável, falando alto, perturbando a harmonia e a rotina das visitas àquela casa…
… A menina foi crescendo, o vovô bebendo menos, mudando menos, se “comportando melhor”. Aos poucos a mãe falava a ela sobre as dificuldades, o estrago que o alcoolismo causa na família, a fome, a escassez, a negligência, medo, tristeza… e mesmo que ela não tivesse “idade” para se deparar com esses conceitos tão complexos, as fraquezas humanas tinham mostrado a cara para eles, por isso se fez hora de aprender.
A família daquela criança (hoje mulher) teve o privilégio de ver mudança na vida do vovô e longos anos de vitória contra o inimigo álcool. Gostaria de dizer que naquela família não houve mais nenhum caso de alcoolismo, mas não seria verdade.
Porém, a menina também pôde aprender, desde criança, sobre um sentimento que tem o poder de quebrar o ciclo de destruição: a compaixão. A compaixão não curou o alcoolismo, mas “blindou” o coração dela contra a vergonha de olhar para um avô bêbado, protegeu também do sentimento de desprezo e desrespeito e preencheu o coração de esperança e certeza de que cada pessoa é maior do que suas fraquezas.
A mãe daquela menina, mesmo sem perceber, ensinou aos filhos que, mesmo que a sua infância tenha sido marcada por histórias tristes, a vida nos dá a possibilidade de nos revestirmos de humanidade, de intensa compaixão para amar, cuidar e esperar… mesmo quando a pessoa que recebe parece não merecer. A mãe foi uma criança vítima de um lar adoecido pelo alcoolismo e ela não escondeu, não negou, nem usou de desculpa para não amar, pois escolheu revestir o peito de compaixão, mesmo sem saber que um dia, quando o tempo passasse, ela decidiria por aceitar Jesus Cristo e deixa-lo cuidar do processo de sarar as feridas do passado e renovar suas forças na esperança de ter um dia o alívio eterno junto do Pai. E hoje, elas podem testemunhar que o amor verdadeiramente perdoa muitíssimos pecados.
Sobretudo, amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa muitíssimos pecados (1 Pedro 4:8).