“Aconteceu que, num sábado, Jesus passava pelas searas, e os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos.
E alguns dos fariseus lhes disseram: — Por que vocês fazem o que não é lícito aos sábados?” – Lucas 6:1-2
O texto de hoje é exemplificativo sobre as maneiras erradas e corretas de interpretarmos um texto das Escrituras Sagradas.
Jesus e seus discípulos passavam por um campo e estes, por estarem com fome, colhiam e comiam espigas, e removiam a palha exterior (debulhavam com as mãos). A atitude deles era permitida pela lei de Moisés, tanto que o texto destaca “com as mãos”.
“Quando entrarem na plantação do seu próximo, podem arrancar as espigas com as mãos; porém não devem colher nada com a foice.” – Deuteronômio 23:25
Os discípulos estavam de passagem e não utilizavam uma foice para arrancar as espigas, pois o espírito do texto mosaico é atender uma necessidade, isto é, a fome e não causar prejuízo ao proprietário do campo.
Porém, havia a proibição de trabalhar no sábado. Aí entra a má interpretação bíblica. Os fariseus e líderes religiosos, a parte do texto escrito, descreveram o que significava trabalhar no sábado. Havia uma lista enorme. E incluíram colher espigas no campo. Percebe como eles “alargaram” a interpretação bíblica?
É o que pode acontecer quando vamos além do texto escrito e começamos a ir além dele, algo proibido pelas próprias Escrituras.
“Meus irmãos, apliquei estas coisas figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por causa de vocês, para que por nosso exemplo vocês aprendam isto: “Não ultrapassem o que está escrito”, para que ninguém se encha de orgulho a favor de um em prejuízo de outro.” – 1 Coríntios 4:6
Quando ultrapassamos o que está escrito, ficamos orgulhosos e passamos a ser a autoridade, não a Palavra. Ficar somente no que está escrito e interpretamos apenas dentro do texto ou do permitido pelas Escrituras nos faz submissos à ela. É fazermos das Escrituras Sagradas a autoridade (2 Timóteo 3:16-17).
Jesus ainda nos dá uma outra dica para melhor interpretarmos um texto bíblico, no texto paralelo de Marcos:
“E Jesus acrescentou: — O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” – Marcos 2:27
Precisamos sempre olhar a Bíblia não apenas como um manual rígido, mas a mensagem do Deus amoroso que deseja apenas o bem dos seus filhos. Todos os mandamentos bíblicos tiveram como intenção o bem do ser humano, não o contrário, o mandamento ou o escrito pelo escrito. No caso do sábado, a razão do seu estabelecimento foi o descanso, o lazer e a devoção do ser humano a Deus. Esse princípio é aplicado para o caso de Davi, exemplo utilizado no texto de hoje, para justificar ele e seus homens terem comido pães proibidos pela lei de Moisés. Claro que deve ser utilizado com sabedoria.
Finalmente, para melhor interpretarmos um texto, o Senhor Jesus nos dá mais uma dica:
“Então Jesus lhes disse: — O Filho do Homem é senhor do sábado.” – Lucas 6:5
Esta última dica de Jesus, se obedecida, evitaria muito falso ensino hoje. Vivemos debaixo da nova aliança, do novo testamento de Deus e assim, aquilo que da velha aliança não foi recepcionado pela nova, deixa de ser obrigatório. Um exemplo importante é a cobrança do dízimo. Na aliança de Jesus, nos 27 livros, não existe uma passagem que manda alguém cumprir esse requisito da lei. Tanto que o texto mais utilizado no meio religioso é o de Malaquias 3:10. O mesmo podemos dizer quanto à guarda do sábado. Afinal, como bem disse Paulo:
“Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.” – Romanos 10:4
Que estas dicas de Jesus nos ajudem a sermos estudiosos diligentes e dedicados das Escrituras Sagradas, especialmente na hora de aplicar e ensinar: ficarmos dentro do texto, buscarmos o bem do ser humano e submetermos o texto à nova aliança.