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Você quer ser curado?

Vou contar uma história que acompanhei em minha trajetória profissional, como psicóloga em saúde mental:

“Seu Joaquim (como chamarei) era um homem de menos de 45 anos, que andava mendigando de cidade em cidade. Ele havia feito uma cirurgia de hérnia umbilical e, provavelmente pela falta de cuidados, a cirurgia não cicatrizou corretamente. Então, ele mostrava a cirurgia inflamada no umbigo para que as pessoas pudessem lhe ajudar dando dinheiro por causa da sua situação. O fato é que Seu Joaquim antes trabalhava na agricultura e, diante do estado de doença, não tinha mais condições de trabalhar. Certo dia, ela apareceu no CAPS (serviço de saúde mental), onde eu trabalhava, numa pequena cidade do interior, sabendo que lá teria refeições de graça. A equipe de trabalho toda se comoveu, procuramos os órgãos competentes, acolhemos Seu Joaquim numa residência terapêutica até providenciarmos a tão necessária cirurgia de reparação da hérnia. Para nós, estava tudo certo, iriamos resolver a vida daquele homem, restabelecendo sua saúde e a autonomia para o trabalho.

Era o que pensávamos, até que ele começou a expressar que estava sentindo falta do dinheiro que recebia e das andanças pelo mundo… até que, às vésperas da cirurgia, ele entrou em surto psicótico, não reconhecendo ninguém, falando coisas desconexas, totalmente desorganizado, subindo até num poste de luz!  Diante da situação, adiamos a cirurgia e precisamos tratar sua saúde mental. Meses depois, ele estava melhor e pôde fazer a tão esperada cirurgia. Para sanar a dificuldade financeira, conseguimos um benefício do INSS para que ele se organizasse e voltasse a exercer as atividades de agricultura em algum momento… e esse momento nunca aconteceu… Seu Joaquim nunca voltou a ter saúde mental e lucidez suficientes para estabelecer uma vida com autonomia. Vive ainda na residência terapêutica, aos cuidados da equipe que trabalha na saúde mental, com uma condição limitada de gerenciamento de vida.

Para nós, equipe de trabalho, foi algo impactante e chocante. Nos questionamos durante muito tempo: “Onde erramos?”, “O que poderíamos ter feito de diferente?”. Hoje, sabemos que não necessariamente cometemos um erro. Só não avaliamos as implicações de tanta mudança na vida de Seu Joaquim, que antes, na sua juventude, já havia apresentado sintomas de psicose. Só nos restou a opção conviver com a expectativa frustrada de resolver a vida de alguém que já estava ‘satisfeito’ com a vida que levava.

Pensando em cura e resolução de vida, me veio uma reflexão a partir do Evangelho de João, capítulo 5, com a história do paralítico no tanque Betesda. Um homem inválido há 38 anos, com chances remotas de entrar primeiro naquele tanque para ser curado. Esse homem teve sua vida transformada completamente através do encontro com Jesus.

Jesus, também Mestre em fazer perguntas, surpreende com esta: “Você quer ser curado?” – Chego a imaginar a reação de espanto das pessoas diante desse questionamento. Como assim, Jesus? Não seria óbvio? Por que Ele fez essa pergunta?

Como a explicação não fica clara nas escrituras, só podemos presumir algumas coisas diante da pergunta feita por Jesus:

  1. Que Ele, Jesus, em sua grande misericórdia e amor, se interessa no querer e no bem-estar daquele homem;
  2. Jesus, com o questionamento, ofereceu ao homem a chance de declarar sua vontade de receber uma transformação de vida;
  3. Além disso, Jesus também lhe concedeu o tempo de refletir nas implicações que a cura poderia trazer na vida dele.

No versículo 7, Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.

Segundo essa resposta, a desesperança já tinha tomado conta dele, fazendo com que ele estivesse próximo ao tanque não pela esperança de cura, mas provavelmente por uma expectativa de obter alguma esmola, por estar num lugar movimentado com muitas pessoas.

Adiante, no texto, em João 5:12-14, Jesus e o homem se encontram uma segunda vez:

Então lhe perguntaram: “Quem é esse homem que lhe mandar pegar a maca e andar? ” O homem que fora curado não tinha ideia de quem era ele, pois Jesus havia desaparecido no meio da multidão. Mais tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Olhe, você está curado. Não volte a pecar, para que algo pior não lhe aconteça”.

O que poderia acontecer de pior? Passar 38 anos aleijado não seria a pior coisa para a vida de uma pessoa?

Nosso Mestre, quando andou aqui na terrena, curou muita gente e sempre nos mostrou que o foco dEle sempre foi a CURA ESPIRITUAL. Há sim, algo pior para nos preocuparmos: a doença espiritual. Essa nos torna inválidos para o Reino de Deus, nos torna aleijados para os planos que o Senhor nos preparou, a doença espiritual é a única capaz de nos causar a morte eterna.

            Jesus nos pergunta: “Tu queres ser curado?”

Ao mesmo tempo que Ele também sabe que a cura espiritual é o mais importante para nós, pois nos leva à eternidade ao lado Dele.

“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2:9)

“Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus.” (1 Pedro 2:16)

Se queremos mesmo ser curados, devemos fazer morrer as nossas vontades, nosso “Eu”, nossa natureza egoísta, mimada e pecaminosa, para não mais mendigarmos pelas coisas terrenas, mas vivermos gozando da liberdade em Cristo, sendo participantes de uma cidadania celestial.

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados.” (1 Pedro 2:24)

Jesus já pagou o maior e mais doloroso preço para que pudéssemos ter o privilégio de sermos curados. Agora, temos a melhor parte, o acesso à nova vida, à oportunidade de vivermos em obediência e sendo uteis ao propósito maior, anunciando a verdadeira cura para aqueles que precisam ser sarados.

Que possamos viver de maneira digna do Senhor, agradando-O em todas as coisas, sendo frutíferos em toda boa obra que Ele antes nos preparou. (Colossenses 1.10)